12 junho 2012

As diversas faces do amor de Romeu e Julieta



Cena de 'Romeu e Julieta'
Por Felipe Candido


“Duas casas, iguais em dignidade - na formosa Verona - apresentam antiga inimizade, manchando mãos fraternas sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais, nasceu um par de amantes malfadados, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte venturosos”.
Foi com essas palavras que em meados do século XVI o dramaturgo inglês William Shakespeare deu início à história de amor mais conhecida de todos os tempos. A relação proibida entre Romeu e Julieta, filhos de famílias inimigas, se tornou um referencial de amor e romantismo que inspirou (e ainda inspira) artistas de diversas gerações.
Escritores, cineastas, dramaturgos e até compositores se dedicaram a recontá-la. Apesar de trágica, ela é e sempre será também uma referência da paixão. E como estamos no mês em que é celebrado esse sentimento, reunimos alguns desses muitos Romeus e Julietas que ganharam roupagens ao longo da história da arte.
PRIMEIRO ATO: O início
Escrita entre 1591 e 1595, Romeu e Julieta se tornou uma das maiores referências da importância da obra teatral de William Shakespeare. Baseado no mito romano de Píramo e Tisbe, a peça escrita pelo dramaturgo inglês narra as desventuras de um jovem casal apaixonado, Romeu Montecchio e Julieta Capuleto, que pertenciam a famílias rivais e, por essa razão, o inocente e puro amor dos adolescentes é proibido por seus pais.
Para tentar viver plenamente seu romance, o jovem casal chega a medidas extremas que culminam na trágica morte dos dois. Com a esperança de vivência do amor sem limites e concessões, a história de Romeu e Julieta tornou-se arquétipo do amor juvenil, tornando-se um dos maiores signos de romantismo da história.
SEGUNDO ATO: Por entre as letras
Na história da literatura mundial, grandes autores foram beber na fonte de Shakespeare para criar seus enredos. Com sotaque lusitano, nosso patrício Camilo Castelo Branco transpôs para a cidade portuguesa de Visceu a trágica história dos jovens amantes, no caso, Simão e Teresa, em seu romance Amor de Perdição. E, assim como na peça de Shakespeare, o final dos amantes portugueses é trágico, com a morte dos dois jovens apaixonados.
Em terras tupiniquins, um de nossos maiores escritores românticos, José de Alencar, deslocou essa paixão para as florestas, nos primórdios de nossa história. O autor cearense dedicou dois de seus livros, que se tornaram clássicos da literatura brasileira, para narrar a história de amor entre indígenas e colonizadores.
Iracema O Guarani também remetem à lembrança do texto de Shakespeare. Em Iracema, a virgem dos lábios de mel se entrega ao amor proibido pelo português Martim, que, por amor à jovem índia, abandonou seus costumes e tradições para poder se casar com Iracema. Porém, mesmo com o ato de amor de Martim, não se pode evitar o fim trágico destinado aos amantes.
Já em O Guarani, os papéis são invertidos, e é a jovem portuguesa que se apaixona pelo bravo guerreiro indígena. Peri e Ceci são os protagonistas dessa história de amor ambientada em meio a uma guerra entre Guaranis e Aimorés. Culmina na morte de todos os portugueses partidários dos Guaranis, incluindo os familiares de Ceci, que parte junto a um futuro desconhecido, distanciando-se dos finais trágicos, recorrentes em obras inspiradas no texto de Shakespeare.
Mas não é somente em clássicos da literatura que Romeu e Julieta são revisitados. Autores modernos também recorrem ao mito do amor proibido para criar seus textos.
Em 2008, o autor italiano Paolo Giordano criou um casal de Romeu e Julieta um pouco diferente. Em A Solidão dos Números Primos, ao invés de famílias rivais que proíbem o amor dos jovens, são problemas pessoais e amarguras interiores que barram o relacionamento de Alice e Mattia.
Ela, uma jovem com distúrbios alimentares, e que ficou com dificuldades de locomoção após um acidente. Ele, um rapaz altamente inteligente, mas que vive assombrado pela culpa pelo desaparecimento de uma irmã deficiente mental. Sendo ambos torturados pelas tragédias pessoais, o fato que os liga, mas também os distancia, é o mais inusitado possível: a solidão, conforme descreve o próprio Mattia em determinado ponto do livro: “Nós somos como um casal de números primos que estão lado a lado, ou melhor, quase próximos, porque entre eles sempre há um número par, que os impede de tocar-se verdadeiramente”. O Romeu e Julieta de Giordano, mais que barreiras externas, precisa enfrentar as paredes internas que se tornaram os “números pares” da relação entre eles.
Bella e Edward em Amanhecer - Parte 1
O maior fenômeno editorial entre os jovens nas últimas décadas também é uma reinterpretação pop (e com pitadas sobrenaturais) da clássica história de Romeu e Julieta. A saga Crepúsculo, da escritora americana Stephanie Meyer, trouxe para o universo vampiresco a famosa história. Edward e Bella se tornaram o novo referencial de amor puro e impossível. Mais do que famílias rivais, o fato de pertencerem a raças diferentes e a proximidade constante com a morte são as dificuldades que impedem a realização do amor dos jovens. Ele vampiro e ela humana vivem no limiar entre o que é possível ou não na relação.
Apesar de Edward amar incondicionalmente Bella, ele precisa a todo momento controlar seus instintos de vampiro para evitar atacar a jovem, que, segundo ele, tem o sangue com o melhor odor já sentido pelo jovem vampiro. Lua Nova, segundo livro da série, é o que faz maior referência ao clássico shakespeareano. Após Edward partir da cidade onde moravam, para evitar que a vida de Bella corresse risco em ataques de vampiros, a jovem entra em depressão e começa a enfrentar perigos até que se atira de um penhasco, sendo salva do mar, antes que se afogasse. Ao acreditar que Bella está morta, Romeu Edward decide pôr fim à sua própria vida, assim como na tragédia de Shakespeare, em que Romeu comete suicídio após receber a falsa notícia de que Julieta havia morrido. Mas, fugindo do destino trágico moldado por Shakespeare séculos antes, o casal Edward e Bella resiste, e seu amor triunfa no final da saga.
TERCEIRO ATO: Por novos palcos
Nascido como peça teatral pelas mãos de William Shakespeare, o ideal romântico do amor impossível descrito em Romeu e Julieta também voltou aos palcos de outra forma. Mais musical e contundente. As tragédias de amor impossível são sempre contadas e recontadas no universo da ópera. “Ao falar de amores proibidos, é impossível não se lembrar de uma das maiores histórias de paixão que existem: a ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner, que conta a história do amor infeliz entre uma princesa irlandesa e aquele que era seu inimigo, assassino de seu noivo, mas por quem ela acaba se apaixonando. E, para piorar a situação, ela se casa com o tio dele”, lembra André Heller-Lopes, diretor de óperas.
Mais óperas:

Werther, de Massenet, inspirada no livro de Goethe
Billy Budd, de Benjamim Britten
QUARTO ATO: O amor nas grandes telas
O cinema também se inspirou na romântica história de Romeu e Julieta para reviver amores impossíveis. Além de diversas versões cinematográficas para a peça de Shakespeare, como o clássicoRomeu e Julieta, de Franco Zefirelli, de 1968, outros enredos situaram os jovens amantes em outras épocas e lugares.
Baseado em peça musical de sucesso na Broadway, escrita por Arthur Laurents, o filme West Side Story, que teve o roteiro adaptado por Ernest Lehman, levou os amantes para a periferia de Nova York, na década de 1950. Carregado com tintas sociais e políticas, o musical fez nascer na zona oeste de Manhattan o amor entre Tony, líder da gang formada por rapazes brancos, os Jets, e Maria, imigrante porto-riquenha e irmã do líder da gang rival, os Sharks, formada por latinos. Em meio a brigas entre americanos e imigrantes latinos, o casal de jovens busca as melhores maneiras de viver esse amor proibido.

Cenas de Romeu e JulietaMoulin Rouge e West Side Story
Após reviver de maneira pop o clássico Romeu e Julieta, em 1996, trazendo para a atualidade o casal de namorados, o diretor Baz Luhrmann reeditou a história de amor, dessa vez em Paris, durante o século XIX, contando a história de amor proibido entre um jovem poeta interiorano e a bela cortesã e estrela do mais famoso cabaré da cidade. Moulin Rouge, de 2001, mostra que, apesar de realmente se amarem, o amor de Christian e Satine é impossível, pois ela está prometida a um figurão, que irá salvar as finanças do Moulin Rouge. Vivendo no ambiente boêmio da romântica Paris, o jovem casal não consegue fugir à tragédia que marca o final da história de amor.
Troy e Gabriella pertencem a mundos opostos. Ele é o popular capitão do time de basquete da escola. Ela, uma tímida e estudiosa aluna. Apesar de estarem em universos distintos, os jovens acabam se apaixonando. Como os colegas de Troy e Gabriella reprovam o relacionamento deles, ambos têm que lutar para conseguir viver seu amor. E o grande elo que acaba por unir, não só Troy e Gabriella, como também os distintos grupos de atletas e estudiosos, é a música. Essa é a história do fenômeno teen,High School Musical, que trouxe mais uma vez o romance de amor proibido para as gerações mais novas.
Em telas brasileiras, Romeu e Julieta também puderam ter sua história recontada. Pelas mãos da diretora Lúcia Murat, Maré, Nossa História de Amor, os namorados de Verona passaram pela favela da Maré com o sonho de se tornar bailarinos. Mas a paixão dos jovens não podia ser concretizada, já que o pai de Analídia disputava com o irmão de Jonatha o controle do tráfico de drogas da região.
Maré - Nossa História de Amor
High School Musical
QUINTO ATO: Canções do amor demais
A música popular brasileira também se inspirou na história dos amantes de Verona para criar canções. Autores das mais diversas épocas compuseram suas versões da clássica história. No início da década de 50, a cantora Dalva de Oliveira deu voz a uma triste história de amor impossível.
Escrita por Paulo Soledade e Marino Pinto, a canção “Estrela do Mar” narra as amarguras de um grão de areia que se vê apaixonado por uma linda estrela, mas o amor dos dois não pode se concretizar pela distância e pela impossibilidade do encontro. Mas, apesar de todas as barreiras, misteriosamente depois de um tempo o mundo pode conhecer a estrela do mar.
Também em forma de fábula, a jovem sambista carioca Teresa Cristina contou sua versão de Romeu e Julieta. O amor impossível entre uma borboleta e um pássaro é o que ela conta em “O Passarinho e a Borboleta”, que a própria natureza se encarrega de separar, pois, apesar de não pertencerem a famílias rivais, o fato de serem de espécies distintas faz com que a paixão deles nunca possa ser concretizada.
Já em seu último disco, Chico Buarque narrou as aventuras amorosas proibidas que aconteceram entre um Romeu escravo e uma Julieta branca na canção “Sinhá”. A relação proibida entre eles foi descoberta, e o rapaz foi torturado por ousar dirigir seus olhos para a bela moça, reafirmando o tom de tragédia que ronda as histórias de amor impossível, desde que o dramaturgo William Shakespeare contou ao mundo as desventuras de um jovem casal de Verona.
Fonte: Saraiva Conteúdo




Retalhos no Mundo:
Dos livros e filmes que vocês leram e/ou assistiram, qual seria o casal perfeito?

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