27 junho 2011

A nova – e perigosa – onda cracker


Arrebanhando simpatizantes na internet, grupos como Anonymous e LulzSec mostram que podem derrubar sites de governos e grandes empresas, impingindo dor de cabeça e prejuízos a todos

Rafael Sbarai e Renata Honorato

Recentemente, Arianna Huffington, criadora do site de notícias Huffington Post, um dos mais acessados dos Estados Unidos, arriscou um palpite sobre os usuários das redes sociais: "A geração que utiliza Twitter e Facebook não quer mais esconder seu rosto." Ao menos em relação aos crackers, Arianna está enganada. A palavra designa jovens especialistas em tecnologia que exercitam seus conhecimentos invadindo e danificando os sistemas de computação de empresas e instituições públicas. Nesta semana, no Brasil, os sites da Presidência da República, do governo federal e do Ministério do Esporte foram tirados do ar; houve ainda investidas malsucedidas contra páginas da Receita Federal e da Petrobras. Foi uma demonstração local da força que os crackers, que escondem o rosto e se mantêm no anonimato, têm exibido em nível global, derrubando, entre outros, serviços de jogos on-line da Sony e o site da CIA, agência de inteligência americana.
Para derrubar os serviços, os criminosos – é assim que outras nações e também especialistas brasileiros definem essas pessoas – coordenam uma operação na rede conhecida como ataque de negação de serviço, ou DDoS, na sigla em inglês (entenda como ele funciona). Lançando mão de vírus, infectam computadores de usuários comuns e, a partir dessas máquinas, sem que seus donos percebam, disparam milhares de requisições de acesso a endereços na web que pretendem derrubar. Sem condições de atender à demanda de tantos usuários, o site sai do ar.
Dois grupos têm reivindicado a autoria das investidas mais vultosas: Anonymous e LulzSec. As diferenças entre os dois não são desprezíveis. O primeiro ficou conhecido como coletivo dos "libertários da internet"; o segundo alimenta a fama de "fanfarrão da rede". Especialistas e polícias nacionais, que já realizaram prisões na Europa e nos Estados Unidos, concordam que os dois estão por trás das operações, que tomaram tal dimensão que permite falar em um novo momento da atividade cracker. Em 1998, quando a internet ainda engatinhava, Kevin Mitnick, o "pai dos crackers", foi preso por invadir sozinho os servidores da Digital Equipment Corporation e furtar programas da empresa. Em abril deste ano, a invasão dos sistemas da Sony colocou em risco dados pessoais de cem milhões de pessoas e causou um prejuízo estimado em 170 milhões de dólares. Além disso, atualmente, os especialistas em programação que derrubam sites contam com a ajuda de simpatizantes que pouco - ou nada - entendem do assunto.

Não é fácil determinar a identidade dos participantes desses grupos, uma vez que se trata de associações informais e descentralizadas. Contudo, é possível traçar um perfil dos dois, com ajuda de estudiosos do assunto, hackers e até mesmo indagando os próprios participantes dos ataques. O Anonymous é formado por um núcleo de programadores que atraíram a simpatia de "hacktivistas" – hackers que também são ativistas políticos ou sociais. Estima-se que seus participantes se concentrem nos Estados Unidos e que tenham entre 18 e 24 anos. Sua atividade já era conhecida em meados da década passada, mas passou a fazer estardalhaço em 2008, quando os crackers compraram briga com a Igreja da Cientologia, cujo seguidor mais famoso é o ator Tom Cruise. Nessa época também cunharam seu símbolo mais conhecido, usado por simpatizantes como forma de disfarce: a máscara de Guy Fawkes, protagonista do HQ e também do filme V de Vingança, inspirado no personagem real do soldado inglês homônimo. Católico, ele participou da conspiração que pretendia matar o rei protestante James I, em 1606. Na vida real, Fawkes falhou e foi levado à forca. Na ficção, o personagem cobre o rosto enquanto tenta arruinar um estado autoritário.

Ao contrário do personagem, o Anonymous não tenta minar o estado e rejeita o rótulo de anarquista. Desde que investiu contra a Cientologia, comanda ataques em nações ricas e até no mundo islâmico sob a alegação de que age em defesa da liberdade de expressão e do direito de acesso à informação. Daí, a escolha de seus alvos: empresas e governos que tentariam de alguma forma restringir essa liberdade. Já mirou contra os governos democráticos da Itália e da Austrália, que tentava acrescentar filtros à internet para combater a pedofilia, e também contra ditaduras na Tunísia e Egito. Tal atuação valeu a seguinte análise por parte da antropóloga Gabriella Coleman, professora do departamento de mídia, cultura e comunicação da Universidade de Nova York: "O Anonymous se tornou um canal de ação tanto para aficionais em tecnologia quanto para aqueles que pouco sabem do assunto. Você não precisa preencher um formulário com dados pessoais ou mandar dinheiro para se filiar, mas sente que faz parte de algo".
No ano passado, o grupo desferiu ataques contra empresas que haviam levantado barreiras ao WikiLeaks, o site comandado por Julian Assange que vazara dezenas de milhares de documentos sigilosos do governo americano. Em resposta à revelação dos documentos secretos, as administradoras de cartões de crédito Visa e Mastercard congelaram doações ao WikiLeaks. O contra-ataque dos crackers foi bombardear os sites corporativos, que saíram do ar. Em um vídeo postado no YouTube, seus membros diziam: "Liberdade de expressão para a internet, ao jornalismo, aos jornalistas e cidadãos do mundo."
Nos episódios em que se envolveu, o Anonymous alega não ter promovido vazamento de dados privados. De fato, aparentemente, o grupo não derruba endereços eletrônicos com o objetivo de se apropriar de informações alheias ou de passá-las a terceiros. Isso reforçou a imagem de grupo ideológico. As exceções foram as invasões dos sistema da Sony (cuja autoria o grupo nega) e da HBGary Federal, empresa de segurança de informática que colabora com o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos.
Estima-se que o grupo reúna entre 2.000 e 3.000 pessoas pelo mundo. "Certamente há brasileiros entre nós", acrescenta um programador americano ouvido por VEJA que se apresenta como participante (leia a entrevisa com ele). Mas o cálculo tenta apenas dar alguma ideia da dimensão da associação, que não tem qualquer registro formal. Tão fácil quanto aproximar-se dela é deixá-la. "Basta participar das ações para se transformar em membro", diz o programador americano. 
Parte das informações do grupo está disponível em perfis de redes sociais, blogs e fóruns. Os simpatizantes se encontram na plataforma de bate-papo na internet IRC, hoje um território de especialistas em computação. Em chats abertos ou reservados, para os quais consegue-se convite com facilidade, as ações são combinadas. Qualquer neófito pode conseguir ali instruções sobre como "ajudar" a derrubar um site ao comando de outro participante. Ninguém se identifica. Para dificultar que as ações sejam rastreadas pelas autoridades, os crackers usam artifícios como ocultar o número de IP, que indica o computador de onde é feita a conexão com a rede. "Os ataques não são sofisticados", diz Routo Terada, professor titular do departamento de computação da Universidade de São Paulo (USP). "A internet é recheada de programas ou artigos que ensinam como empreender essas estratégias", diz.
O LulzSec não tem o histórico nem o protexto do Anonymous: seus participantes dizem que agem por diversão. Daí, o nome do grupo, proveniente da justaposição da gíria "lol" (laugh out loud, em inglês, ou rir em voz alta) com a abreviação "sec" (security, ou segurança). Provém daí também a fama de rebeldes sem uma causa. Nas últimas semanas, contudo, os fanfarrões desbancaram o Anonymous das manchetes ao presumidamente derrubar, entre outros, os serviços do Senado americano, da CIA e também endereços públicos brasileiros.
"O LulzSec é uma pequena dissidência do Anonymous que busca realizar ofensivas a sites sem motivo político aparente", afirma Luiz Leopoldino, gerente de produtos da Ez-Security. De fato, sua atuação é errática. Apesar de pregar a diversão, no recente ataque a sites brasileiros, o grupo alegou que era motivado pela corrupção no governo: "Por longos anos, nosso governo corrupto vem nos roubando. Chegou a hora do contra-ataque." Difícil discordar da afirmação de que a corrupção é um vírus nacional. Derrubar sites que prestam serviços à popução, contudo, não tem efeito antiviral conhecido.
O LulzSec não apenas derruba sites, mas furta dados e os divulga. Recentemente, o grupo publicou milhares de informações pessoais relativas a contas de e-mail e perfis em redes sociais. O melhor argumento que os crackers encontraram para justificar as ações (sim, eles tentaram) é o de que elas pretendiam revelar que a segurança de dados na internet é falha. "O grupo é formado por jovens imaturos, que querem transmitir a falsa sensação que representam o povo", diz José Milagre, advogado e especialista em crimes digitais. Ele afirma que, no Brasil, o grupo foi formado por cinco especialistas em segurança, que se regozijam por tirar do ar os sites da Presidência e do governo federal.
Do ponto de vista da lei, não importa se os sites são retirados do ar por boas ou más intenções. Trata-se de crime. É assim que nações como Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha, que possuem legislação específica para a internet, encaram os casos. No Brasil, é necessário apelar ao Código Penal e transferir as regras para o mundo virtual, explica Renato Opice Blum, advogado e coordenador do curso de Direito Digital da Faculdade Getúlio Vargas. "Vale a lei do país de onde partiu o ataque", diz.
Para além do campo jurídico, é difícil enxergar valor na esmagadora maioria das ações dos grupos. Gabriella Coleman, da Universidade de Nova York, constatou que o Anonymous "oferece oportunidades de microprotesto, de maneira a permitir que os indivíduos sintam que fazem parte de coisa maior". Pode ser uma ideia válida no contexto de países como Tunísia, Egito e Iêmen, cujos governos ditatoriais foram bombardeados pelo Anonymous. Mas, em regimes democráticos, os canais para micro ou superprotestos estão em perfeita atividade, no Congresso Nacional ou no Twitter: a lei garante o direito à expressão. Nesse contexto, de que serve tirar um site do ar?

Entenda como crackers derrubam sites
1-  Atacantes
     São os hackers e crackers que iniciam o ataque.
     Eles infectam com vírus servidores e máquinas de outros usuários comuns que, dali em diante,  os ajudam a realizar o ataque.


2-  Mestres
     Os servidores, computadores de grande porte, são os primeiros atingidos e passam a funcionar como " capatazes virtuais", multiplicando o ataque em direção a milhares e até milhões de máquinas.


3-  Escravos
     São os computadores de usuários comuns: ao receber o sinal do mestres, passam a acessar seguidamente o site da vítima. Os usuários dessas máquinas não fazem ideia do que está acontecendo em seus próprios computadores devido à ação do vírus.


4-  Vítimas
     É o site alvo dos atacantes, que passa a receber milhões de pedidos de acesso simultaneamente. Sobrecarregando, o servidor que armazena esse site para de responder às requisições e sai do ar.


Assista a seguir a vídeo atribúido ao Anonymous com 'mensagens a brasileiros'


http://www.youtube.com/watch?v=aIsTd9WIRKU&feature=player_embedded



Fonte: Veja  Edição 2223  29 de junho de 2011




Retalhos no Mundo:
Eles são uns criminosos, se utilizam de usuários comuns (nós), que não pedimos para participar de tal ação. Se são tão inteligentes, que façam os seus atos sem nos usar para isso. Desta maneira, comprova que no mundo virtual não estamos seguros para os nossos segredos. O nosso PC não é mais "pessoal" e sim universal. O Anonymous até diz que age em defesa de liberdade de expressão e direito de acesso à informação. Nós também temos esses direitos e não queremos nossos PCs sendo utilizados por estranhos.

26 junho 2011

Uma amizade tão delicada...


© Projeto Releituras
Arnaldo Nogueira Jr
22/06/2011 - 22:59:22


Daisy Melo (1961) é carioca de nascimento. Conta que, um dia, resolveu se dedicar às “Letras” em todos os sentidos: aprender, estudar, ensinar, escrever, ler, revisar... fazer qualquer coisa que tivesse as palavras como objeto. Cursa a Faculdade de Letras e, se ainda não vive delas, está vivendo para elas. Alguns de seus trabalhos foram publicados em sites da internet. Em livro, somente um, publicado pela Editora Record para uma edição comemorativa aos 100 anos de Graciliano Ramos, em 2003.


Uma amizade tão delicada...
Daisy Melo

Seus dias eram sempre os mesmos. Acordava na mesma hora quando o sol ainda não nascera e tampouco a lua caíra do horizonte. Tomava o café, saía de casa às sete e até pegava a tal condução que era dirigida pelo mesmo motorista. Trabalhava sempre igual, mecanicamente, todos os dias, até que chegava a hora de ir embora. Para fazer o quê? Comer o jantar congelado, assistir aquela novela de sempre que de nova só tinha o título, o programa de entrevista que usava a mesma fórmula tarimbada de sucesso e, finalmente, dormir na sua cama, a mesma, há tanto tempo.

Mas ela tinha que sair do trabalho e voltar para casa, então, descia a rua, olhando as casas, considerando se naqueles jardins teria nascido alguma flor que, então, faria sua vida ter um quê de diferença.

Naquele dia, enquanto contava as rosas do jardim da casa amarela, aquela com o pé direito alto e as janelas cremes sempre cerradas, a mulher o encontrou parado na esquina em frente à meia água mirrada onde plantada há uma romãzeira em flor.

Ele observava a mulher com nítido interesse, com uma certa curiosidade nos olhos castanhos. Ela tentou não demonstrar, mas sobressaltou-se. Não podia revelar que estava com medo. Sempre soube que eles percebem quando estamos com medo e aí atacam. Mas o coração batia descompassado e, apesar de mudo dentro do peito, ouvia-o nas têmporas. Respirou fundo, passou com ar de quem não estava nem aí, enquanto ele permaneceu sentado. Apenas os olhos a seguiam — será que percebeu um ar irônico?— e, quando a mulher sentiu-se segura, deu uma olhadela de soslaio e ele continuava lá, parado. Um Vira-latas com focinho e pernas amarelas, dorso e cauda negra, peluda, parecendo um ponto de interrogação. Tinha um porte médio e um certo jeitão de cachorro que sabe o que quer da vida.

A mulher esqueceu-se do acontecido durante toda a noite e durante o dia seguinte, até que ao sair novamente do trabalho, topou com ele, de novo, na mesma esquina. Olhava-a curioso, com a cauda movimentando-se lentamente de um lado para o outro. Fingindo não sentir medo, e tentando não correr, passou por ele tesa e, dessa vez o cachorro moveu-se e pôs-se a segui-la. “Ai, droga! O que será que ele quer de mim? Não tenho comida e nem ao menos gosto de cachorros!” Parecendo ler seus pensamentos, ele estancou com um ar decepcionado. E ficou ali até que, a mulher, um pouco surpresa, virou a esquina com pressa. Mas, no dia seguinte...

Lá estava ele parado no mesmo lugar! Ora, ela começou a ficar intrigada quando o cachorro a seguiu novamente, porém guardando uma distância respeitosa, tentando com certeza, não assustá-la. “Acho que estou ficando louca, pensou a mulher, como ele pode estar tentando não me assustar?”

E assim foi no dia seguinte e no outro e nos outros que se seguiram. O cachorro esperava a mulher na esquina. Ela não afagava sua cabeça e ele não abanava a cauda. Apenas a seguia, até que, ao chegar no ponto do ônibus, ele a esperava subir na condução que a levaria para casa.

Era um cachorro diferente, concluiu a mulher. Nada pedia. Nem comida, nem afagos. Queria somente a sua companhia naquele breve trajeto. Ia satisfeito, caminhando ao seu lado e só retornava quando tinha certeza que ela havia entrado no ônibus. Uma vez a mulher saltou um ponto adiante e voltou correndo para descobrir aonde o cachorro ia. E encontrou-o parado no mesmo lugar. Não se mexera. Como se soubesse de antemão as suas intenções. Muito estranho... sentia-se como em um episódio do além da imaginação. Ou será que é pegadinha? É pegadinha, só pode ser, concordou olhando discretamente para os lados para ver se encontrava a câmera. Ela nunca achou a câmera escondida...mas o cachorro, esse estava lá, sempre, todos os dias, na esquina, em frente a romãzeira que perdeu as flores e ganhou frutos. E seus olhos brilhavam quando via a mulher. Era como uma espécie de dever: esperar e proteger. Porque é assim que ela se sentia: protegida. Mas por quê? Construía mil fantasias: era um extraterrestre. Estava numa missão importante: estudar os terráqueos, e entender como podiam sobreviver com suas vidas solitárias, com suas mesmices e desilusões. Só podia ser...

O importante é que a mulher passou a colorir seus dias com um tom outro que não o cinza. E quando pensava no cachorro, com seu jeito manso e nobre de cachorro velho e sábio, com aquele sorriso discreto no focinho repleto de pêlos brancos, a mulher iluminava-se, seu coração pulsava de um jeito diferente e ela arriscava-se a trautear uma melodia há muito esquecida que a fazia lembrar de pique, de roda, amarelinha e cama de gatos.

E a romãzeira perdeu os frutos. Suas sementes serviram para fazer amuletos de boa sorte no dia de Reis e o cachorro estava sempre lá. E esperava.



E—mail: daisy_melo@yahoo.com.br
               Fonte:http://www.releituras.com


 

24 junho 2011

Ele disse que ia me matar bem devagar', diz agricultora jurada de morte na Amazônia

Atualizado em  22 de junho, 2011 - 07:07 (Brasília) 10:07 GMT
Na Amazônia e em outros locais da região norte, 21 agricultores foram mortos em 2010
"Ele disse que ia me matar bem devagar." Essa foi a mensagem que um pistoleiro fez chegar a Nilcilene Miguel de Lima, 45 anos, através de sua cunhada em maio.
A produtora rural assentada pelo Incra há sete anos em Lábrea, cidade no Amazonas próxima à fronteira com o Acre e Rondônia, fugiu da própria casa e hoje está escondida sob a proteção da Pastoral da Terra por conta de ameaças de morte na região.

"Meu sonho era ter uma terra minha e eu consegui isso. Mas já me espancaram, queimaram minha casa, minhas plantações. Tudo isso que sofri e até hoje nada foi feito", disse Nilcilene em entrevista à BBC Brasil.Desde maio, cinco produtores rurais foram assassinados na região Norte do país, e Nilcilene não quer ser a próxima vítima.
"Eu quero voltar, reconstruir tudo, mas não vou mais aguentar, porque sei que vou morrer. Não sei se um dia vou ter uma vida tranquila lá e de pensar nisso estou ficando doente."
Ela e o marido, Raimundo de Oliveira, constam de uma lista de agricultores jurados de morte na região. Os nomes foram repassados pela Comissão Pastoral da Terra ao governo, que criou um gabinete de crise para lidar com o problema.
Enquanto Nilcilene está escondida, Raimundo continua em Lábrea. "Ele está correndo um risco muito grande, mas diz que só sai de lá enrolado em uma lona."
'Morte lenta'
A agricultora conta que a tensão vem lhe causando diversos problemas de saúde, como pressão alta e necessidade de tomar remédio para dormir. "É tanta dor de cabeça, tanto nervoso, sinto dor em tudo. Parece que minha carne está caindo dos ossos."
"
Eu quero voltar, reconstruir tudo, mas não vou mais aguentar, porque sei que vou morrer. Não sei se um dia vou ter uma vida tranquila lá e de pensar nisso estou ficando doente."
Nilcilene Miguel de Lima, produtora rural
Presidente da associação de agricultores familiares de Lábrea, Nilcilene conta que sua situação se agravou em maio, quando o Ibama fez apreensões na região e madeireiros acreditaram que ela havia feito a denúncia ao órgão.
A mando de um madeireiro da região, conta, um pistoleiro permaneceu três dias de tocaia nas proximidades de sua casa. Como Nilcilene não aparecia, resolveu abordar uma cunhada que sempre a acompanhava.
"Ele disse que minha cunhada estava atrapalhando e que se não saísse de perto de mim, ia morrer também. E disse que ia me matar bem devagar", diz Nilcilene.
A agricultora diz ainda que tentou, em vão, recorrer à polícia e às autoridades locais contra as ameaças.
Entretanto, a delegacia de uma cidade vizinha não permitiu que ela fizesse o boletim de ocorrência. O mesmo ocorreu em Extrema, já em Rondônia, onde inicialmente alegaram que ela deveria fazer o registro no Estado do Amazonas.
Após insistir, Nilcilene conseguiu fazer o BO, mas não houve menção ao conflito nem às agressões por parte do madeireiro.
O caso está sendo analisado pela Secretaria de Direitos Humanos e o suposto mandante da tentativa de assassinato contra ela está sendo investigado pela polícia local.
Entretanto, a agricultora lamenta a impunidade que deixa à solta os mandantes de crimes contra pequenos produtores rurais.
"Quem manda lá (na Amazônia) são os madeireiros. Não tem Estado, não tem Justiça, não tem (Ministério do) Meio Ambiente, não tem autoridade nenhuma."
Violência
As ameaças contra Nilcilene já vinham ocorrendo desde o ano passado e entram nas estatísticas da Pastoral, que registram um recrudescimento da violência agrária em 2010.
De acordo com o levantamento, 34 agricultores ou ambientalistas foram assassinados no ano passado, um número 30% maior que em 2009, quando foram registradas 26 mortes no campo. Em 2008 foram 28 assassinatos.
"
Não podemos ter policiais lá eternamente. É preciso criar alternativas para que essas pessoas continuem em suas terras com segurança, com medidas como aceleração da reforma agrária feita de maneira sustentável."
Regina Miki, secretária nacional de Segurança Pública
A região Norte é a mais violenta nesses casos, já que em 2010 concentrou 21 desses crimes. Apenas no Pará houve 18 mortes, número 100% maior que as nove de um ano antes.
Em segundo lugar está a região Nordeste, onde 12 pessoas foram mortas no campo no ano passado.
Além das mortes, foram registradas no ano passado em todo o Brasil 55 tentativas de assassinato, 4 pessoas torturadas, 88 presas e 90 agredidas. Outros 125 agricultores e ativistas ambientais foram ameaçados de morte.
Depois da recente onda de assassinatos no Norte, a presidente Dilma Rousseff anunciou a criação de um grupo interministerial para discutir os problemas de violência no campo.
O grupo é integrado pela Secretaria de Direitos Humanos e a Secretaria Geral da Presidência, além dos ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário e do Gabinete de Segurança Institucional.
Entre as medidas anunciadas estão a liberação de R$ 500 mil para serem direcionados ao Incra no Pará e no Amazonas e a intensificação do combate ao desmatamento na região amazônica.
Denúncia
Para a porta-voz da comissão interministerial, a secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki, é vital que pessoas ameaçadas, como Nilcilene, entrem em contato com o serviço de disque denúncia, ligado à Secretaria dos Direitos Humanos.
Questionada sobre o fato de a agricultora ter enfrentado dificuldades em registrar o caso com as autoridades locais, a secretária ressaltou que os policiais não poderiam ter se recusado a lavrar um boletim de ocorrência. Regina Miki admite que pode ter havido interferência de policiais corruptos da região.
Miki, que integra a área de contenção de crise no grupo, afirma que a opção da secretaria foi a de proteção coletiva dos ameaçados. "Fazemos a segurança pessoal quando a ameaça é mais iminente", disse a secretária à BBC Brasil.
Segundo ela, para proteger todas as pessoas ameaçadas seria necessária a utilização de quase todo o efetivo da Polícia Federal.
A Pastoral da Terra, no entanto, acredita que não é a segurança pessoal dos ameaçados que resolverá o problema, e sim a investigação dos crimes e o fim da impunidade.
A secretária explica que atualmente a comissão está fazendo uma checagem in loco da situação de todas as pessoas listadas pela organização. Enquanto o braço civil da secretaria ajuda no auxílio às investigações dos assassinatos, o militar faz o monitoramento das regiões mais críticas.
Miki afirma que os próximos passos incluem políticas de longo prazo desenvolvidas pelo Ministério da Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente.
"Não podemos ter policiais lá eternamente. É preciso criar alternativas para que essas pessoas continuem em suas terras com segurança, com medidas como aceleração da reforma agrária feita de maneira sustentável."

23 junho 2011

Chico Buarque

http://www.jobim.org/chico/


Entre os documentos para consulta encontram-se algumas relíquias da vida do artista, como o livro de impressões da mãe do compositor que relata seus primeiros anos de vida. Ou a história em quadrinhos “O Chico-mirim”, que escreveu aos 12 anos, além de matérias a respeito de sua carreira.
Para consultar alguns conteúdos específicos como cartas e alguns vídeos é necessário ir pessoalmente ao Instituto. Já foram disponibilizados os acervos de Tom JobimLucio Costa eDorival Caymmi. Entre os próximos da lista estão Gilberto Gil e Milton Nascimento.
O Que:Acervo pessoal de Chico Buarque
Quanto:Catraca Livre
Onde:
Instituto Antonio Carlos Jobim
Endereço:rua Jardim Botânico, 1008 - Rio de Janeiro - RJ

Fonte: Catraca Livre

Qual é mesmo o coletivo de leis?

Atualizado em  20 de junho, 2011 - 05:55 (Brasília) 08:55 GMT
Em inglês, costuma se dizer There ought to be a law. Em inglês, ao que parece, impera uma certa sensatez nas questões que dizem respeito ao melindroso assunto.Legisla-se adoidado, principalmente nos Estados Unidos. Mas, sempre que incomodados, os americanos disparam o bordão: “deveria haver uma lei”.
E as há. Em grande número e de bom tamanho. Não muito distantes, frise-se, da besteira.

Citam como exemplo, a cosmopolita Nova York, cidade que já foi berço da moda, da novidade e do inconformismo, de incessantes talentos aflorando. Em Nova York, não se pode mais fumar em lugar público. No Central Park, Union Square e, boquiabertei, mesmo no Times Square, com aquele moreno vendendo pornô e crack, mas – e isso é o que conta – sem fumar e fazer clientes aspirarem a fumaça nociva de seu cigarrinho e que vem, segundo as autoridades locais, ceifando mais vidas na cidade dos arranha-céus e arranca-rabos do que ataque da Otan na Líbia, onde a falta de mira é assunto de 24 horas e, depois, não se fala mais nisso.Li um artigo caprichado no The Spectator a respeito dos excessos, mais, dos desmandos, da legislação que diz respeito ao antigo ato de fumar. A fumaça passiva é a Aids do século em que estamos.
Iraque, Afeganistão, Talebã? Tivessem soltado mais umas baforadas dos velhos companheiros Lucky Strike, Marlboro, Chesterfield e Pall Mall e, emergindo de cavernas e esconderijos vários, tossindo como se tivessem aspirados o ultrapassado gás mostarda, da Primeira Guerra, os inimigos se renderiam imediatamente. E a missão no Oriente Médio, finalmente, corresponderia ao que George W. Bush apregoou, em vasta faixa à bordo de nave de guerra: “Missão Cumprida”.
Mas qual nada. Eles preferem Guantánamo, torturas várias, fogo amigo. O fogo amigo, mas amigo mesmo, aquele de acender um Old Gold para o companheiro, esse, nem pensar. RIP, Humphrey Bogart e Bette Davis.
Deveriam mirar-se em nossos Brasis. Li, semana passada, no Globo Notícias, já que não tenho fundos para assinar o jornal, uma matéria excelente e que é a nossa cara, ou pelo menos, nossa face menos comentada, seja em Facebook ou Twitter. Vou de Reader's Digest e passo adiante, de segunda, o que peguei, possivelmente mal, de primeira.
Os juízes brasileiros tiveram de lidar com lei que não acaba mais (sim, qual seu coletivo, insisto?) na década de 2000 a 2010. Nesse período foram criadas 75.517 leis, somando legislações ordinárias e complementares, estaduais e federais, além de decretos federais. O que dá 6.865 leis por ano – e que significa 18 leis a cada 24 horas.
Não só temos bosques com mais flores e vidas com mais amores, podemos nos orgulhar também de contribuir com vigor furioso para a aplicação do Direito.
Vinte e um anos de ditadura? Verdade. Mas logo veio a compensação; começamos a governar e seguir, ou inventar, o lema de que “governar é baixar leis”, como já fora “abrir estradas”. Claro que os problemas da máquina judiciária foram agravados, já que a maioria das leis é considerada inconstitucional, mas, sabemos por que aprendemos, que o importante não é constitucionalidade mas o ato, o gesto, a intenção de democratizar legislando.
E tome lei, aguenta projeto, percam tempo com a criação (os exemplos estão no texto da Globo Notícias) do Dia da Joia Folheada, a Semana do Bebê, o Dia das Estrelas do Oriente e o Dia do Motoboy. Sim, claro, as tais 75 mil leis não levam em conta as municipais.
Aí a coisa atingiria himalaias de estupidez, já que existem no Brasil 5.500 Câmaras e 55 mil vereadores. Todos doidos para fazer uso do gatilho legislativo. Minas, em 2010, criou 560 leis que declaram a utilidade pública de alguma entidade, e o que há de entidades públicas em Minas (parou muito tempo na caça de jornais, virou entidade) não está no Gibi.
Uma lei que não vingou foi a ligada ao Dia do Motoboy, destinada a instituir nos estados onde o futebol feminino é praticado, a equipes daquele que já foi o “sexo frágil” para disputar as preliminares dos grandes jogos.
Só 15% dos projetos que viram lei no Congresso foram propostos por parlamentares. 85% são leis que vieram dos projetos do Executivo. Sim, sim, isso me lembra qualquer coisa.
O jurista Hélio Bicudo vai sem meias-palavras direto ao âmago da questão. Diz ele tratar-se de uma “ditadura do Executivo”.
Que é o ponto do filme em que eu entrei. Ou melhor, saí.
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