06 junho 2011

Antes fruto do poder, arte no espaço público se revigorou nos anos 70

Obras de arte expostas ao ar livre já existem há séculos. Principalmente os políticos tentam se imortalizar com monumentos em espaços públicos. Só a partir dos anos 70, tais peças começaram a perder o caráter oficial.

 
Durante muito tempo, a arte colocada à exposição pública era destinada somente a honrar governantes e servir à ideologia do poder. Os exemplos mais famosos são as estátuas equestres, que surgiram, em sua maioria, no século 19. Dessa forma, muitos chefes de Estado foram eternizados em poses heróicas em lugares representativos.
Sob o regime nacional-socialista, Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, teve a ideia de incluir artistas na concepção de edifícios públicos. À legislação da construção civil, ele vinculou uma diretriz que estabelecia que uma pequena porcentagem dos custos construtivos fosse destinada à arte: mais um meio de propaganda estatal e, ao mesmo tempo, uma medida de apoio a artistas fiéis ao regime.
Arte e cultura para todos

A diretriz da "arte na construção" manteve-se depois da Segunda Guerra Mundial. Embora os artistas contratados não fossem mais agentes fiéis da propaganda estatal, seus projetos artísticos não eram originais nem críticos. Em 1953, aconteceu a primeira tentativa de se ir além desses modestos exemplos da arte pública.

O projeto "Escultura ao ar livre", em Hamburgo, quis tornar a arte acessível a um público maior. Ele foi baseada na ideia de que a arte exposta em museu era reservada somente a um público iniciado.

Hilmar Hoffmann, responsável durante muitos anos pela secretaria de Cultura de Frankfurt e depois diretor do Instituto Goethe, agrupa esses pensamentos esclarecedores numa fórmula clara: as palavras "arte para todos" contribuíram para um grande avanço da arte no espaço público, através de um maior apoio de prefeituras e municípios.

Eram grandes as pretensões por trás dessa ideia. Os cidadãos deveriam desenvolver uma maior autonomia com o estímulo da arte – procurava-se uma educação sensorial com vista a mais democracia.

A arte se torna independente

Em 1974, a prefeitura de Hannover contratou a artista franco-suíça Niki de Saint Phalle, para criar esculturas para uma exposição pública em área urbana. As representações femininas atraentes, coloridas e voluminosas provocaram discussões acaloradas e muitas críticas. Muitos consideram a exposição como o berço da arte no espaço público na Alemanha.
O historiador da arte Volker Plagemann foi diretor do departamento de assuntos culturais em Bremen a partir de 1973, trabalhando posteriormente muito tempo em Hamburgo. Para ele, duas causas principais foram decisivas para o número crescente de obras de arte no espaço público.

Nos anos 1970, a responsabilidade pela arte pública mudou de mãos. A partir daí, os profissionais das secretarias de obras públicas não eram mais os responsáveis pelo projeto artístico e pela conclusão dos espaços públicos, mas os conhecedores da cultura e da arte. Além disso, os artistas foram envolvidos na fase de planejamento. Eles participavam das decisões de onde e como as obras de arte deveriam ser realizadas.

"Assim, a imagem da arte mudou", assinala Plagemann. Se antes havia muitas esculturas "comportadas", como meninas lendo um livro diante de uma biblioteca estatal, ou a representação de um menino escrevendo em frente à uma escola, a arte se tornou independente. Isso levou muitas vezes a controvérsias, já que as obras eram incompreensíveis para muitos. Desde essa época, as autoridades culturais dispõem de um orçamento fixo para trabalhar em espaços públicos e edifícios – em Hamburgo, até mesmo sobre superfícies aquáticas.

Do grafite à arte de rua


Mais tarde, veio a arte de rua ou "street art", que queria libertar os objetos da atmosfera dos museus. Às vezes, em nome de cidades e empresas e muitas vezes ilegalmente, surgiram obras de arte sobre superfícies urbanas. A complexa cultura do grafite – agora parte indispensável das cidades modernas – é o exemplo mais conhecido, mas é apenas um pequeno elemento da arte de rua.
Grafite: muitas vezes ilegal, mas formador de estiloGrafite em muro da cidade alemã de Colônia: arte muitas vezes ilegal, mas que marca centros urbanos







"Hoje", diz Volker Plagemann, "obras de arte ilegais e a arte contratada legalmente se combinam das mais diversas formas nos espaços públicos. Além disso, já faz bastante tempo que a arte no espaço público não se reduz apenas a esculturas ou pinturas nas paredes das casas."
Em alguns lugares, imagens ou vídeos são projetados em grandes superfícies. Sejam bailarinos, percursionistas ou um só ator de pantomima, a arte de rua é bastante diversificada. E assim, também, é o seu caráter: ele pode ser exigente, superficial, profundo, abstrato, realista ou somente comercial – há exemplo de todos os tipos.
Nos últimos anos, o financiamento público da arte diminuiu cada vez mais. Em vez disso, aposta-se mais e mais em patrocinadores e financiadores privados. Quanto à questão sobre se a arte no espaço público é hoje mais bem-aceita do que antigamente, o historiador da arte Plagemann responde sobriamente: "A arte é sempre bem-aceita por aqueles que a entendem. Pelo outros, ela não recebe aceitação."
Autor: Günther Birkenstock (ca)
Revisão: Marcio Damasceno

 
 
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O grafite é uma arte que enriquece ou que polui o espaço público?


Retalhos no Mundo:
Acho que a arte do grafite exprime a visão do artista e não importa se é um espaço público ou em outro local. O que desvaloriza essa arte é "pixar" as casas e locais não autorizados.

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