14 fevereiro 2011

Policial 007 espionava ativistas

por Paula Rothman (Planeta Verde)
A terra de 007 está em polvorosa com a revelação de um homem que, por sete anos, atuou como agente infiltrado – literalmente a serviço secreto de sua Majestade.

O inglês Mark Kennedy, um policial desde 1994, não tem o charme de um James Bond – mas conseguiu enganar ativistas de diversos grupos e espionar suas ações para o governo.

Agora, desmascarado, ele se diz arrependido. Mark parece ter desenvolvido um carinho verdadeiro pelosativistas – um caso estranho de “o espião que me amava”; ele pediu demissão da polícia e foi viver no exterior. Sua verdadeira identidade, ao vir à tona, ainda obrigou a procuradoria inglesa a retirar as acusações contra seis pessoas envolvidas em um protesto em 2009.

Tudo começou em 2003, quando Kennedy, então com 33 anos, adotou o nome de Mark Stone. Ele é um de pelo menos dois agentes a serviço do National Public Order Intelligence Unit, agência que monitora os chamados extremistas domésticos. Após deixar as tatuagens á mostra e cultivar barba e uma bela cabeleira, ele começou a se passar por um alpinista profissional engajado em diversos movimentos.

Infiltrado em dezenas de grupos de protesto, ele viajou por 22 países recolhendo informações. O mundo não era o bastante para sua vontade de ajudar e doar – e suas atitudes tão exemplares (ele não só ajudava a organizar os movimentos, como doava dinheiro e participava das ações) acabaram levantando suspeitas.

Os diamantes são eternos, mas a farsa não. A postura perfeita atraiu a desconfiança de alguns amigos. Em outubro, um grupo vasculhou seus pertences pessoais, documentos somente para seus olhos, e encontrou um passaporte com o nome real do agente. Daí para chegar à sua verdadeira identidade, como policial, foi um pulo. Confrontado, Mark, que não possuia licença para matar, acabou confessando tudo.

Segundo o The Guardian, ele pediu desculpas aos ativistas, dizendo que o que fez foi errado. Ele teria dito que ajudaria os grupos que espionou, porém mudou de ideia . Aparentemente, Kennedy ficou com medo de estar marcado para a morte, na mira dos assassinos, e alegou que precisava se calar para proteger sua família.

Mark Kennedy mudou de país para tentar começar do zero. O espião sabe que, desmascarado, só se vive duas vezes.

As conseqüências de seu “desmascaramento”, no entanto, não acabaram. Em abril de 2009, a polícia havia prendido 114 ativistas ambientais perto de Nottingham. O grupo foi acusado de planejar a invasão de Ratcliffe-on-Soar – uma usina movida a carvão, e não nuclear (fato que desqualifica o caso como uma chantagem atômica). Do total, 26 pessoas foram acusadas de conspiração para cometer invasão. 20 delas entraram em um acordo e foram condenadas após confessarem planos de invadir a usina para tentar evitar a emissão de 150 mil toneladas de carbono.

Os problemas surgiram no julgamento dos 6 ativistas restantes – que afirmavam ainda não terem decidido se invadiriam ou não a usina na época. Quando a dupla identidade de Kennedy veio à tona, ficou claro que o agente deu dinheiro, ajudou a organizar e inclusive se voluntariou para escalar a usina. Isso o tornou não só um espião/observador passivo, mas um participante ativo. Ele teria incitado o movimento e pode ter influenciado a decisão de algumas pessoas.

Os advogados dos réus pediram então que o governo fornecesse informações sobre Kennedy, para que o julgamento dos envolvidos pudesse ser justo. Para não comprometer o que chama de “confidencial”, a promotoria preferiu retirar a queixa contra os ativistas.

O final dessa história parece ser uma lição para a polícia e para os ativistas – ambos precisam ter mais cuidado. Afinal, o amanhã nunca morre – mas sempre pode ser um novo dia para morrer.

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