Se assinalam os 125 anos da sua edição(Os Maias) e uma iniciativa Expresso (Eça Agora) veio chamar a atenção para a obra e a efeméride. De facto, o conhecido semanário oferece o romance, em très edições consecutivas, a que se seguirão, em outras três edições, textos de seis escritores atuais que "trazem" Os Maias até 1973- e um sétimo e último volume sairá um estudo, sobre o romance, do reputado especialista queirosiano Carlos Reis.
Feitas duas perguntas aos escritores que trarão o famoso romance até à decada de 70 do século passado, e todos responderam ao inquérito- com exceção de Gonçalo M. Tavares, que se encontra em viagem.
Inquérito (Parte 2)
É um dos seis escritores que irá "continuar" Os Maias, prolongando-o no tempo, de 1887 até 1973, anos da fundação do Expresso, nos termos dos objetivos do projeto "Eça Agora" desse semanário. Pergunta-se:
1. Considera realizável, para citar o projeto, " dar seguimento à narrativa de Os Maias, à altura de Eça?Mário Zambujal
Nunca saberemos o que o Eça faria com aquelas personagens (e outras, mais ou menos risíveis, que lhes fosse acrescentando) se pudesse prolongar Os Maias até 1973. Mas não se trata, aqui, de entrar em adivinhacões. A cada um dos autores chamados ao exercício, deu-se a óbvia liberdade de usarem os seus próprios estilos de escrita, imaginação e pessoais modos de louvar o pai da obra. Teremos assim, presumo (nada sei dos outros) textos ficcionais muito diversificados e esse será um motivo de curiosidade na coleção. Quanto à expressão "à altura de Eça", calma, pode insinuar intenções e objetivos exagerados. Falo por mim mas aposto que qualquer dos outros cinco ficcionistas pretenderá é estar à sua própria altura - não como sucessor ou sucedâneo do senhor Eça de Queirós.
J. Rentes de Carvalho
Por mim falo, mas acho que demonstraria ligeireza a cabeça que considerasse possível "continuar" Os Maias. É obra acabada, não se lhe mexe nem deitam remendos. Aquele "dar seguimento à narrativa" só pode ser tomado como piscadela de olho, embora um ou outro ingénuo talvez espere que o seu favorito entre os escritores que participam possa num repente ganhar fama queirosiana. Mais realista é tomar a coisa como um simpático jogo, espécie de corrida de sacos para escribas, e não lhe dar mais importância do que a que tem: uma maneira louvável de festejar os 40 anos do Expresso, com a vantagem colateral de que aqui e ali haja gente a descobrir Os Maias.
2. Pela sua parte, escreveu ou vai escrever a sua ficção de forma natural, como qualquer outra, ou entende tratar-se de um desafio particularmente difícil, que exigiu ou exige pelo menos "ousadia" para lhe responder? E qual o ângulo ou tom da sua abordagem, se já o tem e se pode saber?Mário Zambujal
De forma natural, naturalmente. Escrevo como escrevo, não ia agora mudar. O que me calhou foi período de 1925 a 1940, o repto era imaginar como se comportaria o Carlos da Maia por esses tempos. Dei-lhe um caminho - poderia ser outro, de qualquer modo marcado pelas circunstâncias. Se é ou não "ousadia"., depende do que possam os leitores esperar de um texto livre de 50 mil carateres (passei um bocadinho) com uma história inventada mas a refletir, mesmo ao de leve, a realidade da época. E mais não digo.
J. Rentes de Carvalho
Há de perdoar, mas a palavra desafio é das que me faz cócegas. Políticos, cantores, atrizes velhas e novas, fadistas principiantes, industriais, desportistas, banqueiros, homens da bola, meninas desempregadas, poucos portugueses haverá que não sintam a excitação do desafio. Isto de Os Novos Maias não põe desafio nenhum, muito menos é questão de "exigir ousadia" . É-lhe apresentado um projeto, feita uma proposta, você pesa os prós, os contras, e se por acaso aceita resta-lhe fazer à prosa o que agora os bombeiros dizem que se faz em relação aos incêndios: "muscular" a coisa. No que se refere a ângulos, tons e abordagens, aí vejo-me obrigado a seguir o exemplo de qualquer chef que se preza: escondo a receita, os ingredientes, o tempo de cozedura, e a seu tempo apresntarei o prato.
Há de perdoar, mas a palavra desafio é das que me faz cócegas. Políticos, cantores, atrizes velhas e novas, fadistas principiantes, industriais, desportistas, banqueiros, homens da bola, meninas desempregadas, poucos portugueses haverá que não sintam a excitação do desafio. Isto de Os Novos Maias não põe desafio nenhum, muito menos é questão de "exigir ousadia" . É-lhe apresentado um projeto, feita uma proposta, você pesa os prós, os contras, e se por acaso aceita resta-lhe fazer à prosa o que agora os bombeiros dizem que se faz em relação aos incêndios: "muscular" a coisa. No que se refere a ângulos, tons e abordagens, aí vejo-me obrigado a seguir o exemplo de qualquer chef que se preza: escondo a receita, os ingredientes, o tempo de cozedura, e a seu tempo apresntarei o prato.
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Nota: Um dos princípios para Eça Agora prendeu-se com a cronologia. Cada escritor ficou com vários anos a seu cargo- 12,15 ou mais- iniciando-se a nova história em 1888 (Carlos da Maia tem 37 anos) e prolongando-se até 5 de janeiro de 1973,
Fonte: JL nº 1117
Fonte: JL nº 1117
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