Este ano estamos comemorando o centenário de Jorge Amado. Teremos algumas comemorações durante o ano. Para não passar em branco, colocarei aqui um artigo que li sobre ele.
O bem amado Jorge
Por Manoela Ferrari
(Jornal das Letras)
O ano de centenário de Jorge Amado – nascido no dia 9 de agosto de 1912- é uma excelente oportunidade para se fazer uma releitura de um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.
Numericamente atrás apenas do fenômeno Paulo Coelho, a obra de Jorge Amado foi vertida para 49 idiomas e dialetos, editada em 55 países, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos.
Para saber o total da obra vendido até hoje, a pesquisadora Ilana Goldstein, autora de O Brasil best seller de Jorge Amado (Senac)(1), realizou um levantamento junto às antigas editoras do escritor e estima que o montante se encontre na casa dos 30 milhões. Segundo a autora, Jorge Amado “iniciou muita gente na leitura e ajudou um país inteiro a aprender a ler”.
Autor mais adaptado da televisão brasileira, a literatura de Jorge Amado- que inclui 25 romances, dois livros de memórias, duas biografias – a do poeta Castro Alves e a do Comunista Luís Carlos Prestes-, duas histórias infantis e uma infinidade de outros trabalhos, entre contos, crônicas e poesias- conheceu inúmeras adaptações também para cinema e teatro, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil.
Por motivos extra literários, a recepção crítica à sua obra variou muito, desde que o autor baiano começou a publicar, nos anos 30. A razão para a divisão de opiniões, segundo a presidente da ABL(Academia Brasileira de Letras), Ana Maria Machado, se deu, entre outros motivos, pelo fato de o autor ter pertencido ao Partido Comunista, por sua associação com a Bahia ou pela linguagem coloquial. Os livros de Amado sempre foram alvo de fortes ressalvas. A severidade no julgamento fez com que o autor baiano fosse menosprezado nas análises universitárias de letras, apesar de sempre apreciado por antropólogos e sociólogos.
A postura dos críticos literários contribuiu para um certo descrédito de sua obra e possivelmente para o afastamento dos leitores, sobretudo os mais jovens, algo que as reedições iniciadas em 2008 pela Companhia das Letras, têm buscado reverter. O centenário é um momento-chave nessa reconquista, com exposições, seminários, shows, peças teatrais, livros, além de novela e filme. Toda essa movimentação será uma oportunidade para que se renove também o debate sobre a nova relação da literatura e da crítica com os leitores.
Em apoio à proposta de releitura e reconstrução crítica, sobretudo estética do imenso legado do ilustre baiana, a ABL, vem atuando em duas frentes: a nacional e a internacional. No Brasil, está programada uma grande exposição no mês de aniversário do homenageado (agosto), acompanhada de palestras, exibição de um ciclo de filmes e publicação de artigos.
Internacionalmente, a programação também é variada, sempre em parceria com universidades e instituições culturais estrangeiras. A primeira homenagem foi realizada em Paris, durante o Salon do Livro, de 16 a 18 de março. Na oportunidade, juntamente com a Sorbonne, universidade da qual ele foi Doutor Honoris Causa, criou-se a jornada Jorge Amado, com uma programação incluindo conferências dos acadêmicos Ana Maria Machado, Nélida Piñon e Sergio Paulo Rouanet.
No cinema, a novidade desse ano de homenagem fica por conta da Warner Bros.Pictures e da Total Filmes, que levarão para as telas o longa-metragem. As fantásticas aventuras de um capitão(2), baseado no livro Os velhos marinheiros(3). Com uma linguagem moderna e direta, o filme é dirigido e roteirizado por Marcos Jorge (premiado diretor de Estomâgo(4)). As filmagens acontecem entre março e maio de 2012, com 90% da produção realizada no Rio de Janeiro.
A sensualidade do romance Gabriela, por sua vez, voltará a ser exibida nas telas da televisão brasileira, em novela da Rede Globo. Com estreia prevista pra junho (5), o remake baseado no livro do autor baiano terá Juliana Paes e Humberto Martins no papel dos protagonistas, Gabriela e Nacib (na primeira versão exibida pela emissora em 1975, o casal era interpretado por Sônia Braga e Armando Bôgus (6)).No mercado editorial, a Companhia das Letras reuniu quatro dos mais famosos livros de Jorge Amado em um kit, que tem como tema as suas personagens femininas. As Obras, que narram as histórias de Dona Flor, Gabriela, Tieta e Teresa Batista, compõem a caixa As Mulheres de Jorge Amado. O item foi lançado em edição limitada e contém os títulos: Gabriela, Cravo e Canela(1958), Dona Flor e Seus Dois Maridos(1966), Teresa Batista Cansada de Guerra(1972), Tieta do Agreste(1977).
Controversa ou polêmica, não importa. A obra de Jorge Amado encerra uma utopia. Há os que o viam como um trivial contador de histórias. Mas há também os que o consideram um mestre do romance. O fato é que o nosso mais popular autor baiano queria fazer uma obra acessível, acreditando que a literatura poderia ser um meio de libertação.
“Sonho com uma revolução sem ideologia,
onde o destino do ser humano,
seu direito a comer, a trabalhar, a amar,
a viver a vida plenamente
não esteja condicionado ao conceito expresso e imposto por
uma ideologia seja ela qual for.
Um sonho absurdo?
Não possuímos direito maior e mais alienável do que o direito
ao sonho.
O único que nenhum ditador pode reduzir ou exterminar.”
Jorge Amado.
Retalhos no Mundo
(2)
WARNER BROS. PICTURES DISTRIBUIRÁ AS FANTÁSTICAS AVENTURAS DE UM CAPITÃO
As Fantásticas Aventuras de um Capitão conta a história do comandante Vasco Moscoso de Aragão (Joaquim de Almeida) e de sua agitada chegada em uma cidadezinha balneária, a vila de Periperi, situada nas proximidades de um grande município portuário. Já maduro, este pitoresco forasteiro vem para ficar, buscando repouso depois de uma longa vida de aventuras por todos os mares do globo.
O charmoso navegante conquista rapidamente a simpatia e admiração dos moradores. Os homens se reúnem ao seu redor para ouvir histórias do mar e as mulheres suspiram por sua figura romântica. O que não demora a suscitar o despeito de alguns invejosos, em especial do fiscal Chico Pacheco, até então o cidadão mais admirado do local.
José Wilker será Chico Pacheco, que perde popularidade na pacata vila de Periperi com a chegada do comandante Aragão. Desconfiado e enciumado das histórias contadas pelo capitão, Chico resolve investigar sua vida pregressa e o desafia a provar suas habilidades.
O filme discute o tema da construção da verdade e do mito. Avançando e recuando no tempo, apresentando os personagens ora de uma maneira ora de outra, manipulando habilmente o ponto de vista, o roteiro do longa dá espaço à fantasia, mas termina por traçar um retrato verídico da condição e das paixões humanas.
O elenco estelar que completa o filme inclui Claudia Raia, Patricia Pillar, Marcio Garcia, Milton Gonçalves, Mauricio Gonçalves, Tainá Muller, Sandro Rocha, entre outros.
As Fantásticas Aventuras de um Capitão tem direção de Marcos Jorge – diretor de Estômago, filme premiado nos festivais do Rio, de Roterdã, de Punta del Este e pela Academia Brasileira de Cinema – e é produzido pela Total Filmes (Se Eu Fosse Você 1 e 2) com coprodução da Warner Bros. Pictures. As filmagens começam em março de 2012, comemorando o centenário de Jorge Amado.
Fonte:http://www.brasiltvdigital.com
(3)
OS VELHOS MARINHEIROS OU O CAPITÃO-DE-LONGO-CURSO |
Num belo dia de 1929, chega à estação de trem de Periperi - um pacato vilarejo de veraneio na periferia de Salvador - um personagem singular, vestindo túnica de oficial da marinha mercante: comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão-de-longo-curso. Aos sessenta anos, ele se declara cansado de navegar mundo afora e diz que veio para ficar. Logo se torna figura de destaque na comunidade local, composta quase exclusivamente de aposentados, encantando a todos com seus relatos de aventuras românticas e exóticas. Ou a quase todos. Um grupo de cidadãos enciumados com o prestígio do recém-chegado questiona a veracidade das histórias e até mesmo sua condição de comandante. O fiscal aposentado Chico Pacheco, líder dos questionadores, empreende uma investigação implacável em Salvador e volta com a bombástica notícia de que Aragão é uma fraude: não passa de um velho boêmio, que torrou nos bordéis e cabarés o patrimônio do avô português, comerciante de secos e molhados. Seu título de capitão-de-longo-curso fora obtido por meio de corrupção e malandragem. Quem estará com a razão? O comandante ou seus detratores? O tira-teima definitivo se apresenta na forma de uma última missão para a qual o comandante é convocado: levar ao porto de chegada um navio cujo capitão morrera em alto-mar. O romance foi publicado originalmente em 1961, no volume Os velhos marinheiros - Duas histórias do cais da Bahia, que incluía a novela A morte e a morte de Quincas Berro Dágua. |
(5) Estreou no dia 18/06
(6) Armando Bôgus (1930-1993)
Trilha original de 1975
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