19 abril 2011

A volta da Copa de Literatura Brasileira

05/01/2011
Vida literária

A volta da Copa de Literatura Brasileira
Por Sérgio Rodrigues


A Copa de Literatura Brasileira, o mais divertido, democrático e desencanado dos prêmios literários nacionais, está de volta. Abertamente inspirada na competição americana Tournament of Books, a brincadeira foi lançada em 2007 com regras de torneio esportivo: os livros se enfrentam aos pares em esquema de mata-mata, cada partida decidida por um único juiz, até a final em que todos os árbitros votam. Houve três edições consecutivas, vencidas respectivamente por Assis Brasil, Cristovão Tezza e Carola Saavedra. Ano passado, porém, silêncio – a Copa parecia ter se tornado mais uma vítima do ambiente efêmero da internet.

Felizmente, foi apenas um hiato que a tabela deste ano, recém-divulgada, dá um jeito de compensar: os 16 títulos concorrentes foram eleitos entre os lançamentos de 2009 e 2010. Liderados pelo economista e preparador editorial Lucas Murtinho, os organizadores prometem que o resultado da primeira partida sairá no dia 28 de fevereiro. Nessa data, juntamente com o anúncio do vencedor, será publicada a resenha de justificativa do voto e estará aberta a temporada de comentários dos leitores, que em certos momentos dos anos anteriores atingiram níveis polêmicos de virulência. De modo geral, é quando começa para valer a diversão – ou o estresse, ou tudo junto.

A ideia é que até o fim do próximo mês o público tenha tempo de ler o maior número possível de concorrentes e esteja pronto para dar seus pitacos com conhecimento de causa. O que, por incrível que pareça, realmente ocorre em muitos casos, embora um certo irracionalismo de torcida organizada também faça parte do espetáculo.

Como qualquer concurso artístico, a CLB está cheia de decisões duvidosas ou mesmo francamente injustas. Sua insuperável vantagem é a de obrigar o tomador da decisão a mostrar a cara e expor suas razões, que em seguida podem ser questionadas pelo mais importante e mais negligenciado personagem do debate literário: o tal “leitor comum”. Como estímulo às conversas sobre ficção nacional contemporânea, um tema habitualmente espremido entre o descaso da universidade e a anemia resenhística da imprensa, não existe nada melhor no mercado.

Em nome da transparência do lado de cá, registre-se que já participei da CLB como concorrente (em 2007, com “As sementes de Flowerville, que chegou à semifinal) e juiz (em 2008, quando dei a vitória a “O dia Mastroianni”, de João Paulo Cuenca, sobre “Cão de cabelo”, de Mauro Sta. Cecilia). Este ano, concorro novamente com o romance “Elza, a garota”, que enfrentará “Sinuca embaixo d’água”, da jovem escritora gaúcha Carol Bensimon.

Em nome da transparência do lado de lá, gostaria de entender os critérios que levaram os organizadores a excluir “Pornopopéia”, indiscutivelmente um dos mais importantes romances brasileiros dos últimos dois anos, e, de modo menos espantoso, também o notório “Leite derramado”, o mais premiado do período – premiado por motivos errados, pode-se argumentar, mas ainda assim uma ausência de peso.

O bacana é que, como se vê, o debate já começa antes do apito inicial.

Fonte: Veja


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