A condessa de Gouvarinho possuía o título por casamento, mas questões de dinheiro, aliadas à mediocridade do conde, fazem com que o casal se desentenda. De candeias às avessas com o marido, Gouvarinho passa a ser o que hoje poderíamos considerar uma figura da sociedade. É, aliás, no Teatro de São Carlos que ela conhece Carlos da Maia, no intervalo da representação de "Os Huguenotes", ópera de Meyerbeer, ganhando assim o direito a figurar como personagem secundária de "Os Maias".
Não terá sido por acaso que a condessa se dá a conhecer durante uma ópera de um compositor menor (Eça não escolheu um Mozart, um Rossini ou um Verdi, mas um simples Meyerbeer). A própria condessa é uma figura pouco importante, razoavelmente falida, embora com acesso à fina-flor lisboeta. Surge do nada e desaparece da história quando Carlos, três semanas depois de a conhecer, se farta dela, apesar de a achar "picante".
Ora manda a verdade dizer que o nosso (ou nossa, ou qualquer coisa) José Castelo Branco, tendo todo o mérito de ser uma personagem bem conhecida e com acesso, não deixa de ser secundário. Nem aspirará, provavelmente, a maior estatuto do que aquele que detém. Mas há o pormenor do casamento e do socialite que fez com que este (ou esta, ou coiso) ex-mergulhador do "Splash" (e por menor que seja Meyerbeer sempre é um programa mais culto do que o show em causa) também tenha as obrigações descritas em "Os Maias" para a Gouvarinho: receber, estar e conversar.
Afinal, nesta trilogia, que pode ser aperfeiçoada na teoria e na prática através de tratados como os de Paula Bobone, estão os alicerces intelectuais de quem se alcandora ao jet set e nele consegue permanecer. Apesar do que se vai dizendo, normalmente, pelas costas. Talvez Eça nem sequer desconfiasse que, 125 anos depois, ainda se falaria de Gouvarinho...
Fonte: Jornal Expresso
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