18 julho 2013

Outras Estantes:Questionário queirosiano a Mário Zambujal

"Eça Agora" é uma coleção que além de "Os Maias" inclui a sua continuação e um livro de estudo.

O Expresso distribui esta semana o segundo livro da coleção "Eça Agora". São sete volumes dedicados a celebrar a obra de Eça de Queirós - "Os Maias" foram publicados há precisamente 125 anos - bem como o 40.º aniversário do Expresso. 

Mário Zambujal é um dos seis escritores escolhidos para continuar "Os Maias", num exercício literário em que cada um explora determinado período histórico, de forma a transportar a narrativa até aos dias da fundação do Expresso, em 1973. Estes novos capítulos compõem os três volumes de "Os Novos Maias".

Questionário queirosiano a Mário Zambujal 




As diversas personagens típicas ou ridículas de "Os Maias" fazem desta tragédia uma tragicomédia?
Em todas as épocas da História de Portugal (e não só de Portugal, convenhamos) existiram personagens e comportamentos açoitáveis pelo humor. O talento do Eça conduziu-o a caricaturar, magistralmente, figuras e figurões da atualidade que lhe coube viver. Os alvos simbolizam o que de mais torpe e balofo marcava uma sociedade - e um modo de "ser português" que não nasceu com "Os Maias" nem consta que tenha falecido. Tragicomédia, parece-me a designação adequada. Continua em cena.

A constante ironia de Eça é um dos seus grandes méritos ou uma das suas principais limitações, por comparação com o trágico e o patético de Camilo, por exemplo?
A pergunta convida a especular acerca do que o Eça escreveu - e do que não escreveu. Nunca ele terá pretendido ser outro Camilo - nem o Camilo ambicionaria pisar os terrenos do Eça. As diferenças no que escreveram não resultam de limitações mas das diferenças de personalidade, de estilo e de vida vivida. Nem será desajustado dizer: ainda bem que se limitaram a ser como foram.

Existe um "segredo" em "Os Maias": é um estratagema de época, que envelheceu mal, ou continua um recurso atual?
Existir um "segredo" aguça a curiosidade, a curiosidade estimula a continuação da leitura - mesmo quando outras e mais fortes razões não colam o leitor ao livro. Em "Os Maias", o "segredo" não é a alma do negócio, mas contribui para o prazer de ler.

"Ainda o apanhamos", dizem os dois amigos na última página do romance; é essa esperança desesperançada que torna "Os Maias" tão português?
Releio esse final em que o Carlos da Maia e o João da Ega perseguem o elétrico, gritando: "Ainda o apanhamos!" - e quem me salta à cabeça é o nosso esfalfado Governo, correndo atrás da meta do défice, aos gritos: "Ainda o apanhamos!" Ficou escrito que não.

Poucos romances portugueses são tão "cinematográficos" e tão dependentes, nomeadamente, do advérbio de modo; a escrita de "Os Maias" é "visual" ou "estilística"?
Acumula. As personagens e peripécias de "Os Maias" saltam aos olhos, a prosa é música para os ouvidos. Bem poderia dizer, o Carlos da Maia: "A minha vida dava um livro." E poderia o Eça acrescentar: "O meu livro dava um filme." Ambos teriam razão, como se comprova.
Fonte: Jornal Expresso

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