Nardoni: um julgamento e um linchamento
O que me impressionou realmente nesse julgamento do caso Nardoni foi a existência de, digamos, dois juízos.
Um se realizava lá dentro e desse eu não entendo bulhufas.
O segundo, e mais impressionante, andou pela televisão, e diz respeito ao lumpesinato que ficou na porta do tribunal, ora aplaudindo o promotor, ora agredindo o defensor, ou ainda xingando os réus etc.
Uma coisa meio circense, não há dúvida, mas muito sintomática da exasperação das pessoas e do tipo de percepção que se tem da Justiça.
Em poucas palavras: o que se pensa é que não há justiça. Ponto.
Não há como dizer que estejam muito errados, nesse particular.
Ao mesmo tempo, não era justiça que pediam, era vingança. Ou seja, aparência de justiça.
Não se tratava de julgar os réus, mas de condená-los.
O linchamento é um pouco isso. Está no "Fúria" do Fritz Lang.
À custa de instituições que não funcionam, que são cheias de desequilíbrios, à custa de exasperação, acabamos virando um povo de linchadores.
E o linchamento é a massa solta com toda irracionalidade solta.
O que significa, hoje em dia, uma massa que cultua as aparências, a epiderme, aquilo que aparece na TV.
Um que seria linchado, se pudessem: o matemático russo que resolveu a Hipótese Poincaré e nem por isso mostrou a cara, não foi receber seu milhão, mandou todo mundo plantar batata, não aceitou empregão. Esse foge ao padrão. Total.
Por Inácio Araujo às 21h01
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