16 agosto 2011

A devassa e as artimanhas da mídia para iludir

Por Luciano Pires 


Mas que crise econômica, que corrupção, que nada! Parem tudo! A Sandy disse que é possível ter prazer anal! Pô, não foi qualquer uma não, foi a Sandy!  A do Júnior, cara! A filha do Xororó! E o assunto ferveu nas mídias sociais, virou tema de acaloradas conversas na hora do cafezinho e quadros e enquetes em programas de televisão.


Sandy, a devassa, parou o Brasil.
A coisa explodiu quando a revista Playboy apresentou a capa da sua edição de agosto de 2011 com um ensaio fotográfico com Adriane Galisteu e uma chamada muito sugestiva:  Entrevista Sandy - “É possível ter prazer anal.”
Era só o que faltava! A doce Sandyzinha que todos vimos crescer, falando em prazer anal? Aliás, esse é um daqueles temas que tocam fundo, sem trocadilho. E uma lição valiosíssima para entender como é que os profissionais da comunicação fazem para ganhar nossa atenção. Impossível ler a frase da Sandy e ficar impassível! Pois fui atrás da entrevista e achei o trecho fatídico. Veja só:
Playboy – Dizem que as mulheres não gostam de sexo anal. Você concorda com isso?
Sandy – Então... Não tem como não responder isso sem entrar numa questão pessoal. Mas, falando de uma forma geral, eu acho que é possível ter prazer anal. Sim, porque é fisiológico. Não é todo mundo. Deve ser a minoria que gosta.
Ora, ora, então a Sandy não é uma militante do sexo anal! Sua resposta foi até bem diplomática, algo como nem contra nem a favor, muito pelo contrário. Mas será que a danadinha pratica, hein? 


Olha a continuação da entrevista:Sandy – ...Deve ser a minoria que gosta.Playboy – Uma minoria na qual você se inclui?
Sandy – Não vou dizer. Essa é uma pergunta que me faria por em prática minhas aulas de boxe (risos).
Ora essa! Então ela não disse que gosta. Não disse que é bom. Não disse que as pessoas devem praticar. Ela apenas disse que isso é uma questão pessoal, que não falaria sobre suas preferências, mas que acha que é possível ter prazer anal e que uma minoria deve gostar. Ponto. Não consigo imaginar uma resposta melhor. 


Quem me lê há tempos já sabe da minha “Teoria dos 4 Rês”: notícias sem a menor relevância, passadas por pessoas sem qualquer responsabilidade, são recebidas por nós sem nenhuma reserva e recebem ressonância desproporcional. Os profissionais da comunicação sabem trabalhar as informações, signos, ritmos, como ninguém, para nos capturar pela emoção. Marotamente pinçada para fora do contexto, a frase “eu acho que é possível ter prazer anal” transformou-se numa confissão, e a Sandy virou devassa.
Abre o olho, meu. É assim que a coisa funciona.

Palestrante e escritor, Luciano Pires é editor do site Café Brasil

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