28 setembro 2013

Outras Estantes- Os Maias Revisitados - Parte 8

Se assinalam os 125 anos da sua edição(Os Maias) e uma iniciativa Expresso (Eça Agora) veio chamar a atenção para a obra e a efeméride. De facto, o conhecido semanário oferece o romance, em très edições consecutivas, a que se seguirão, em outras três edições, textos de seis escritores atuais que "trazem" Os Maias até 1973- e um sétimo e último volume sairá um estudo, sobre o romance, do reputado especialista queirosiano Carlos Reis. Maria do Rosário Cunha, falará sobre a futura edição crítica de Os Maias. Kyldes Batista Vicente, sobre a minissérie da TV Globo que os teve por base- enquanto se lembram também suas adaptações ao teatro (bem como a falhada tentativa do próprio Eça), com o testemunho da encenadora Filomena Oliveira.  E ainda o que pretende ser uma sua próxima adaptação ao cinema, em entrevista com o realizador João Botelho.

Uma versão dramatúrgica
  Filomena Oliveira 


Os Maias tem sido diversas vezes adaptado ao teatro, sendo o primeiro registro de 1945, com encenação de Amélia Rey Colaço e interpretação da sua companhia. Sem se ser exaustivo, registe-se, nos anos seguintes, a do Teatro Independente de Oeiras (1995), do Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett-Teatro da Malaposta (2001), da Companhia de Teatro na Educação do Baixo Alantejo (2002) e do Teatro Experimental do Porto(2004), esta com encenação de Norberto Barroca. Nas ainda mais recentes, destaque-se a do Teatro Noroeste, do Centro Dramático de Viana, em 2007 e 2012, e a que António Torrado fez para o Teatro da Trindade, em 2009. Filomena Oliveira apresenta a encenação que fez (de uma adaptação também sua e de Miguel Real), em 2010, para a ÉTER, e que ainda se mantém em cena, em Sintra.
A presente versão dramatúrgica d'Os Maias, de Eça de Queirós, em cena no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, há quatro temporadas, um espetáculo da ÉTER-Produção Cultural, consiste na condensação dramática dos principais momentos, dos conflitos mais importantes e das personagens e acontecimentos centrais da obra, captando a sua essência estruturante como obra literária, traduzida para a linguagem dramática e cénica num espetáculo que unifica e harmoniza três dimensões estéticas diferentes: a representação dos atores em palco, a representação dos atores em filme-vídeo e a música, elemento não menos decisivo para a totalidade do espetáculo.
Nesta adaptação dramatúrgica para cinco atores em palco e nove atores em filme, salienta-se uma visão realista da obra, dando continuidade ao estilo do autor e, porque apresentado em Sintra, exploram-se, em representação vídeo, os ambientes românticos da Serra louvados pelo maestro Cruges e o poeta romântico Tomás de Alencar, as estadias de Maria Eduarda no Hotel Lawrence e o encontro de Carlos Eduardo no Hotel Nunes com o raquútico Eusebiozinho e com o devasso jornalista Palma Cavalão e as suas espanholas.
No interior de uma visão realista da obra, destacam-se os figurinos da época, o constante humor que atravessa a representação dos atores, nomeadamente da personagem Dâmaso Salcede ("Chique a valer!) e a ironia presente na representação de João da Ega ("A única ocupação dos ministros é cobrar imposto e fazer empréstimo").
No início da peça, o humor e a ironia são minimizados face ao elemento dramático do suicídio de Pedro da Maia; no final, pelo elemento de Carlos da Maia e Maria Eduarda.
Cético o final da peça, como o final do romance, Ega confessa pertencer a uma geração que falhou a vida, adiantando, budistícamente, que " não vale a pena correr com ânsia para nada, nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder...". Assim termina Os Maias, com Ega e Carlos Eduardo atravessando a plateia do grande auditório a correrem para o jantar no Hotel Bragança: "Lá vem um americano, ainda o apanhamos!". Não correm pela vida, correm por uma refeição. Destino trágico dos portugueses!
A produção dramatúrgica d'Os Maias insere-se na estratégia cultural da ÉTER, companhia especializada na criação artística em monumentos patrimoniais. Assim, apresentará na próxima temporada cinco espetáculos que, de certa forma, iluminam a história e a cultura portuguesaa: Memorial do Convento, de José Saramago, no Palácio Nacional de Mafra e na Fundação José Saramago; Navegar-Camões, Pessoa e o  V Império, no Mosteiro dos Jerônimos; Frei Luís de Sousa, de Almeida Garret, no Panteão Nacional; Os Maias, de Eça de Queirós, no Centro C. Olga Cadaval, e Vieira- O Sonho do Império, no Museu Nacional do Teatro. Acabou de representar Liberdade, Liberdade!, peça sobre os presos políticos durante o regime do Estado Novo, na Guiné-Bissau, depois de ter sido apresentado o mesmo espetáculo, no ano anterior, em Macau.


   
 Palácio Nacional de Mafra
         
 Fundação José Saramago


Panteão Nacional 

               
    Centro C. Olga Cadaval



  Restaurante em Sintra.jpg
Museu Nacional do Teatro             Hotel Lawrence

    
                                                                Hotel Bragança
                                                                           
Fonte: JL


Próximo post: Eça dramaturgo falhado

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23 setembro 2013

Dolo e desejo

No caso do triplo homicídio cometido há cerca de um ano, em Queluz, por um homem que bloqueou o elevador em que seguiam a cunhada, a sobrinha e um trabalhador da segurança privada, regando-os com gasolina e ateando-lhes fogo, a defesa terá alegado que o arguido só quis pregar um susto às vítimas, sem desejar a sua morte. O argumento será procedente?

Por: Fernanda Palma, Professora catedrática de Direito Penal


Apesar de jurídico, o conceito de dolo é cada vez mais utilizado pela comunicação social e até na linguagem comum. No Código Penal, o dolo é definido, em alternativa, como intenção, aceitação da inevitabilidade ou mera conformação com a possibilidade de praticar o crime. Estas modalidades correspondem, respetivamente, ao dolo direto, necessário e eventual.
A doutrina jurídica e os tribunais entendem, desde há muito tempo, que o dolo não se identifica com o "desejo". Quem desfere, por exemplo, um tiro na cabeça de alguém (sabendo que a sua arma está carregada) quer matar essa pessoa, independentemente do desejo. Pelo contrário, quem "deseja" matar outra pessoa através de magia não atua verdadeiramente com dolo.
Uma alegação, ainda que sincera, sobre o que o arguido desejou pode não corresponder à interpretação socialmente aceitável da sua conduta. Há esquemas comportamentais que todas as pessoas (pelo menos, as imputáveis) reconhecem como uma espécie de linguagem da ação. Se, por exemplo, tremermos numa situação de perigo, não será de alegria mas de medo.
Como dizia Wittgenstein, o modo como nós nos interpretamos está dependente de um jogo da linguagem social, no qual participamos obrigatoriamente. Só nesse pressuposto as normas incriminadoras (do homicídio, da violação, do sequestro, do roubo e de outras condutas lesivas de bens fundamentais) podem ter a pretensão de conformar as condutas das pessoas.
No teatro, o pensamento de um ator não modifica a compreensão do público sobre o sentido das ações que se desenrolam no palco. Do mesmo modo, o que sente o autor de um crime não muda o significado do que fez. Ao agir de certa maneira, as pessoas conhecem o seu papel. A impossibilidade de negar esse papel dá o critério da responsabilização por dolo.
Sem discutir o caso concreto, pode concluir-se que quem prende uma pessoa num espaço fechado e ateia um incêndio não pode deixar de querer matar essa pessoa. A única dúvida plausível diz respeito ao tipo de dolo com que o autor do crime terá agido. No mínimo, ele deve ter previsto a possibilidade de a vítima morrer, conformando-se com essa possibilidade.
Fonte: Correio da Manhã

22 setembro 2013

Mergulhando no baú de brinquedos

Jogos e brinquedos que foram criados há muito tempo ganham novamente vida pelas mãos de Diogo Rafael e Kênia Andréa. Físicos e artesãos, o casal busca recuperar as brincadeiras

Para aqueles que já superaram a tão temida “crise dos trinta” e rumam agora para seus quarenta ou cinquenta anos, brincadeiras e brinquedos clássicos como o ‘Boneco Trapezista’, ‘Bumerangue’, ‘Jogo de Varetas’, ‘Resta Um’ e ‘Jogo da Velha’ fazem parte da memória. São coisas que marcaram a história de muita gente e que graças ao talento de Diogo Rafael e Kênia Andréa estão se perpetuando no tempo.
Os dois são proprietários do ‘Ateliê Mayumanah’ que fica em Ponta Grossa, no bairro de Uvaranas. Físicos formados pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), há dez anos a dupla resolveu resgatar clássicos das brincadeiras de antigamente e oferecer uma opção diferenciada de lazer em meio aos grandes avanços tecnológicos vividos atualmente. “Nós buscamos muito a cultura da família. A gente percebe que a diversão eletrônica separa muito, é cada um na sua tela.

Fonte: Jornal da Manhã-Ponta Grossa-22/09/13

Retalhos no Mundo: Você também já brincou com alguns destes brinquedos?
RM: Dos relacionados, apenas não brinquei com o bumerangue e tenho em casa o jogo de varetas e resta um. E vocês?

21 setembro 2013

Outras Estantes: Os Maias Revisitados - Parte 7

Se assinalam os 125 anos da sua edição(Os Maias) e uma iniciativa Expresso (Eça Agora) veio chamar a atenção para a obra e a efeméride. De facto, o conhecido semanário oferece o romance, em très edições consecutivas, a que se seguirão, em outras três edições, textos de seis escritores atuais que "trazem" Os Maias até 1973- e um sétimo e último volume sairá um estudo, sobre o romance, do reputado especialista queirosiano Carlos Reis. Maria do Rosário Cunha, falará sobre a futura edição crítica de Os Maias. Kyldes Batista Vicente, sobre a minissérie da TV Globo que os teve por base- enquanto se lembram também suas adaptações ao teatro (bem como a falhada tentativa do próprio Eça), com o testemunho da encenadora Filomena Oliveira.  E ainda o que pretende ser uma sua próxima adaptação ao cinema, em entrevista com o realizador João Botelho.

Maria Eduarda for ever!
José-Augusto França

Maria Eduarda é, sem antes nem depois, a heroína do romance português, por excelência sua, do seu autor e no que dramaticamente pode ser entendido no Portugal (ou na Lisboa) do Romantismo, já em perda realista de Fontismo. Isto é, nos anos 1880 de entre o "Santanário" de Camões e o Ultimatum. Como soube perceber, acho eu, um certo Conselheiro Adalberto Martins de Sousa, em Memórias encontradas que vão vir a lume. Quando, depois do "curto rompante de luxo barato" da Avenida e das paragens fluviais do Aterro, e quando o turf mudara de luxos para o Chiado, em 1888 (com alguma colisão de datas próximas, na narração então terminada), Carlos voltou, em visita, à pátria da "língua da libra" e "dos sindicatos", diz o Alencar.
Maria Eduarda era já então Madame de Trélain- e em vão eu próprio pus a filha Rose em Madame d'Amécourt, Mademoiselle de Saint-Postou que fora, a encontrar Eça nos "Variétés", já no fim do século, num entreato da La Belle Lurette. Notícias de "Madame votre mère?" Bem, só o coração, uma pequena malformação, "rien de grave"...Assim do coração malformado (de nascença, veja-se), Maria Eduarda discretamente padecia, como convinha, simbolicamente ao seu passado de amor intenso, e impossibilidade final...
Nesse amor e nessa impossibilidade se cruzou o par Maria e Carlos, que se formou na Lisboa de 1880-"amantes malditos" em "amor de perdição", a meio século de distância ( e estando ainda vivo quem o descreveu, em 1862) foi o deles os dois. Outro não haveria ou poderia haver, entre o Grémio e S. Carlos, da Gouvarinho ou da Abranhos, da prima Luísa ou da pobre Amélia da Leiria do Padre Amaro, ou da priminha das Serras, em casamento reconhecido- que outros exemplos Eça não deu, nem o seu próprio; nem o dos pais, entre ajuste mundano e oficial e drama doméstico de imprevidência.
Neste "romance de aprendizagem", "educação sentimental", foi Eça o romancista do amor mais autêntico que em Portugal tivemos, até ao melancólico desamor. Prefiro não falar aqui da Menina e Moça "alternativa", em jogo de reflexos, do poeta Bernadim, numa história em 89 capítulos, inconclusiva e assim moderna, afinal. E tão o foi quanto a de Maria e Carlos, no arrumar das suas vidas( ou des-vidas, como é corrente; todos os romancistas o sabem e praticam, tanto quanto podem). Porque, no Portugal em que nasceram, só entre eles, na sua categoria física (a bela entrada real de Maria, no átrio do Hotel Central: não há filme que no-la encene) podia haver tal amor...
O suicídio de Ana Karenina ou de Madame Bovary, trágico e nobre ou sórdido e pequeno-burguês, não podia ser para aqui chamado, em catástrofe que a boa educação de "vencido da vida" proibia. Mas o desenlace, após a crise tragicómica, não foi menos terrível, em mansa nostalgia...
Maria Eduarda terá tido modelo angevino fotografado, no preciso momento (isso está documentado) em que Eça compunha e recompunha Os Maias? Não há especialista ( e tantos são!) que o confirme ou analise, nem biograficamente o queira saber, em Angers, como necessário parece ser.
De qualquer modo, neste aniversário esdrúxulo de 125 anos d'Os Maias - Maria Eduarda for ever, e única!


14 setembro 2013

Outras Estantes:Os Maias Revisitados- Parte 6

Se assinalam os 125 anos da sua edição(Os Maias) e uma iniciativa Expresso (Eça Agora) veio chamar a atenção para a obra e a efeméride. De facto, o conhecido semanário oferece o romance, em très edições consecutivas, a que se seguirão, em outras três edições, textos de seis escritores atuais que "trazem" Os Maias até 1973- e um sétimo e último volume sairá um estudo, sobre o romance, do reputado especialista queirosiano Carlos Reis. Maria do Rosário Cunha, falará sobre a futura edição crítica de Os Maias. Kyldes Batista Vicente, sobre a minissérie da TV Globo que os teve por base- enquanto se lembram também suas adaptações ao teatro (bem como a falhada tentativa do próprio Eça), com o testemunho da encenadora Filomena Oliveira.  E ainda o que pretende ser uma sua próxima adaptação ao cinema, em entrevista com o realizador João Botelho.

Para uma edição crítica
Maria do Rosário Cunha * 

No início de 1881, Eça de Queirós ocupava-se já com a redacção d'Os Maias, conforme afirma numa carta a Ernesto Chardron, com data de 16 de janeiro, justificando o atraso na revisão das provas d'A Capital!: "Tem V. Exª razão, mil vezes razão, a respeito da Capital! Mas que quer? Meti-me nesta empresa dos Maias que deviam ser apenas uma novela, e que se tornaram um verdadeiro romance! E tenho gasto todo este tempo a trabalhar neles!" E acrescenta: "Felizmente vejo breve(o) fim desta obra - e então em pouco tempo, querendo Deus, a Capital estará pronta. Porque não creia que eu não tenha também trabalhado nela , aqui e além; mas trabalho casual que pouco adianta: os Maias absorvem-me."
Estas palavras permitem situar o início da gestação d'Os Maias no ano de 1880, pelo menos, sendo possível até que o romance "à espera de vez", de que fala a Ramalho Ortigão, em carta de 28 de setembro de 1878, fosse já o seu embrião: ainda sem título definido, era a história de um incesto, mas, segundo afirmava, "tratado com tanta reserva que não choca".
Seja como for, o certo é que quando Eça escreve a Chardron, em janeiro de 81, a elaboração d'Os Maias, já com o título com que virá a ser publicado, estaria numa fase que, monopolizando o ímpeto criativo do escritor, lhe permitia reclassificar a obra genologicamente, de acordo com a amplitude que esta fora adquirindo. O que vem a ser confirmado, um mês depois, em nova carta a Ramalho: o romance, "robusto e nédio livro em dois volumes", estava "pronto no manuscrito inicial", os três primeiros capítulos enviados para impressão, e outros capítulos já copiados e à espera de seguirem o mesmo caminho.
O processo complica-se, porém, e, no Verão do ano seguinte, Eça queixa-se a Ramalho de estarem impressos apenas quatro capítulos, facto que atribui à incompetência da empresa a quem fora confiada a tarefa. A partir de 1883, a responsabilidade da edição passa, por fim, para as mãos de Ernesto Chardron. Mas os cinco anos que, a partir de então, são ainda necessários ao aparecimento do romance desmentem a simplicidade que o escritor atribuía ao processo de revisão das provas tipográficas: "Eles mandam-me primeiras provas de composição, que eu revejo; em seguida remetem-me, não provas segundas, mas provas de páginas, que revejo, devolvo- e acabou-se" (carta a Ramalho, de 10 de agosto de 1882).
Sem ignorar as frequentes queixas de Eça relativamente à incúria dos tipógrafos, ao seu peculiar processo de escrita fica a dever-se a publicação, em 1888, de um romance que o escritor afirmava estar terminando em 1882. Só em outubro de 1887, no entanto, Eça anuncia a Jules Genelioux, sucessor de Chardron, entretanto falecido, ter enviado à tipografia o final do romance, ficando na sua posse, para revisão, o penúltimo capítulo. Em 19 de abril de 1888 espera ainda as duas últimas páginas, reclamando igualmente de Genelioux a revisão da página 8: "Cette feuille 8me j'avais l'intention de la laisser telle qu'elle est, après tout. En la rekisant cependant (...), je vois qu'elle fourmille d'erreurs trop grossiers et quíl est important de la reimprimer.(...)Ainsi vous voyez que je n'ai plus deja grand chose à faire. Je serais très satisfait vers la moitié de Mai". Não será em maio, contudo, mas no final de junho que o livro aparece.
As exigências de ordem estética e ética que sempre acompanharam o trabalho do escritor estão plenamente documentadas na extensa correspondência trocada com familiares e amigos. Todos os romances que escreveu lhe suscitaram tais dúvidas e, no que repeita a Os Maias, por mais de uma vez as manifestou. Em 1882, a 3 de junho, nomeadamente, escrevia a Ramalho: "Eu não estou contente com o romance: é vago, difuso, fora dos gonzos da realidade, seco, e estando para a bela obra de arte, como o gesso está para o mármore. Não importa. Tem aqui e além uma página viva- e é uma espécie de exercício, de prática, para eu depois fazer melhor".
A esta necessidade de "fazer melhor" ficaram a dever-se os enormes lapsos de tempo decorridos entre o momento em que anunciava a conclusão de uma obra e aquele em que essa obra era realmente concluída. Entretanto, no "vai e vem" das provas tipográficas, as correções ou, na maior parte dos casos, em acrescentos entrelinhados ou registados em longas tiras de papel coladas às páginas originais, do que resultava um produto inteiramente diferente  daquele que inicialmente chegara às mão dos tipógrafos.
Desta incessante procura do termo justo e da forma perfeita resultou um conjunto precioso de materiais - manuscritos e impressos - que hoje permitem reconstituir diferentes fases e estratégias de construção da narrativa queirosiana. Nem sempre, contudo, esses materiais foram preservados, e, no caso d'Os Maias, justamente, são escassos os elementos que poderiam levar à descoberta das diferentes fases de gestação e amadurecimento do romance onde, como escreve ao amigo Ramalho, em 20 de fevereiro de 1881, decidira "(pôr) tudo o que (tinha) no saco".
No espólio que a família de Eça de Queirós entregou à guarda da Biblioteca Nacional, na década de 70 do século passado, apenas dois manuscritos podem ser associados ao processo de elaboração e redação do romance. Um deles, composto por seis folhas escritas a lápis de ambos os lados e sem título, apresenta um conjunto de descrições, variantes umas das outras, de paisagens naturais. Em termos de construção narrativa, trata-se de um documento de trabalho que, por tentativas, procede à representação do espaço permitindo reconhecer o cenário do passeio a Sintra, que ocorre no capítulo VIII.
O outro, composto por cinco folhas igualmente escritas a lápis de ambos os lados, apresenta uma série de descrições independentes entre si, a maior parte das quais incide sobre a tourada: sobre aspetos técnicos do espetáculo, sobre o recinto da praça de touros e sobre o público que a ela acorre e nela se encontra. Como é sabido, não existe qualquer tourada n"Os Maias. Mas as notações de luz e cor, de calor e pó, e do tédio que se desprende da paisagem humana, tristonha e séria, remetem claramente para o episódio das corridas de cavalos, que ocupa o capítulo X do romance. As razões que terão levado Eça a substituir pelas corridas de cavalos o espetáculo genuinamente português da tourada, sem desaproveitar totalmente o documento de trabalho que este manuscrito representa, serão ponderadas, no texto introdutório à edição crítica que se encontra em fase de preparação*
O trabalho exigido por esta edição não levanta particulares problemas, dada a inexistência de variantes que lancem dúvidas sobre a vontade definitiva do autor relativamente ao texto que deixou. Ainda assim, não podem ser ignorados os excertos que, antes de 1888, foram publicados em alguns períodicos, nomeadamente no Correio da Manhã (1884), n' A Ilustração (1886) e no Almanaque das Senhoras Portuguesas e Brasileiras para 1888 (1887): conhecendo o processo de escrita de Eça de Queirós, não é possível ignorar a hipótese de alguma divergência relativamente ao texto final, publicado em 1888. É sobre este texto, primeira e única edição em vida do autor, com uma tiragem de 5000 exemplares, que incide a fixação do texto da edição crítica.*

* Maria do Rosário Cunha é profª da Universidade Aberta e autora de vários livros sobre Eça, estando a preparar, com Carlos Reis, a edição crítica d'Os Maias, para a Imprensa Nacional/Casa da Moeda.


08 setembro 2013

A Semana em Retalhos: 01/09 a 07/09/13


Meme semanal hospedado pelo Lost in Chick Lit, onde compartilhamos pequena informações sobre a nossa semana literária. Tendo como principal objetivo encorajar a interação entre os blogs literários brasileiro, fazer amizades e conhecer um pouquinho mais sobre outras pessoas apaixonada por literatura. Tem interesse em participar? Saiba como aqui 


Leitura(s) do momento:
Fazes- me falta de Inês Pedrosa
Do seu lado de Fernanda Saads

Livros emprestados da biblioteca:
Fazes-me falta de Inês Pedrosa
Li essa semana:
Nenhuma leitura concluida
Abandonei essa semana:
Nenhum 
Resenhei essa semana: 
Falta publicar
Comprei essa semana
Bienal na área (aguarde lista completa)
Evento(s) da Semana: 

Sorteios:(Participando)









Promovendo:
















Ganhei essa semana:
Nada
Recebi essa semana: (pelo correio)
Nada
Desejo Comprar Urgentemente:
No momento nada ou melhor todos os livros da BIENAL
Im in mood for...(gênero literário do momento)
Romance
Super Quote:
Não selecionei nenhum

Vi e viciei(booktrailers, trailers, videos whatever)


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1) Resenhas Lidas


2) Conhecendo novos blogs:
  • Eternamnente Princesa!
  • Beletristas
3) Sinopses Lidas
De todos os livros adquiridos na Bienal (aguarde lista)

07 setembro 2013

Outras Estantes:Os Maias Revisitados- Parte 5

Se assinalam os 125 anos da sua edição(Os Maias) e uma iniciativa Expresso (Eça Agora) veio chamar a atenção para a obra e a efeméride. De facto, o conhecido semanário oferece o romance, em très edições consecutivas, a que se seguirão, em outras três edições, textos de seis escritores atuais que "trazem" Os Maias até 1973- e um sétimo e último volume sairá um estudo, sobre o romance, do reputado especialista queirosiano Carlos Reis. Maria do Rosário Cunha, falará sobre a futura edição crítica de Os Maias. Kyldes Batista Vicente, sobre a minissérie da TV Globo que os teve por base- enquanto se lembram também suas adaptações ao teatro (bem como a falhada tentativa do próprio Eça), com o testemunho da encenadora Filomena Oliveira.  E ainda o que pretende ser uma sua próxima adaptação ao cinema, em entrevista com o realizador João Botelho.

A minissérie da televisão brasileira
Kyldes Batista Vicente *

As minisséries e as telenovelas brasileiras buscaram seus temas na literatura, desde o início de sua produção. Ao analisarmos as minisséries exibidas pela Rede Globo de Televisão até hoje, notamos que metade delas teve inspiração nos textos literários: entre os brasileiros, Jorge Amado, Nelson Rodrigues e Érico Veríssimo foram os mais visitados. A procura por autores estrangeiros é menor; no entanto, Eça de Queirós constitui o destaque, duas vezes revisitado, com O Primo Basílio (1988) e Os Maias (2001). Esta última minissérie foi uma coprodução entre a Rede Globo (Brasil) e a SIC (Portugal), que teve o custo, à época, segundo a emissora, de XX milhões de reais.
O projeto da minissérie Os Maias teve início em 1997, quando a Rede Globo convidou a novelista Glória Perez para assinar o roteiro, e Wolf Maya, a direção. A minissérie teria 16 capítulos, seria toda gravada em Portugal, teria Paulo Autran como Afonso da Maia e estava prevista para ser exibida a partir de janeiro de 2000. No entanto, em março de 1999, depois de trabalhar no remake da novela Pecado Capital, Glória Perez não pôde participar do projeto Os Maias.
Então, em 2000, após o sucesso de A Muralha, a emissora escolhe Maria Adelaide Amaral para elaborar o roteiro e Daniel Filho para a direção. que posteriormente foi substituído por Luiz Fernado Carvalho. E, para colaborar com Maria Adelaide Amaral nesta elaboração do roteiro, foram convidados Vincent Villari e João Emanuel Carneiro, a mesma equipe do sucesso A Muralha. Após análise do romance, a equipe decidiu construir a minissérie a partir de três romances de Eça de Queirós: Os Maias, A Relíquia e A Capital,  já que a minissérie deveria ter 44 capítulos. Nesse caso, a equipe buscou na obra de Eça de Queirós subsídios para ampliação dos capítulos.
A pesquisa para a elaboração do roteiro contou com o exame e a consulta da obra ficcional do autor de Os Maias, as correspondências, ensaios, artigos publicados em jornais, projetos de textos inéditos fornecidos pelo prof. Carlos Reis  e também fotografias do escritor, Dessa forma é que os roteiristas chegaram à construção de cenas e diálogos que apresentassem o mesmo tom da literatura de Eça de Queirós. As escolhas dos romances do escritor português, as inserções de textos não narrativos e não verbais, bem como de outras fontes, para que a minissérie fosse elaborada, culminaram em um complexo processo de construção do roteiro da minissérie.
No trabalho de composição, os roteiristas sentiram a necessidade de aproximar o texto queirosiano ao espectador brasileiro.Com isso, as adaptações foram conduzidas para que houvesse a compreensão da narrativa e que pudessem ser atendidos os influxos da mídia televisiva.
A roteirista-autora esteve atenta aos cuidados com a realização deste trabalho, conduzindo-se de forma respeitosa com o texto do escritor português e as estratégias utilizadas para atender aos anseios da teledramaturgia. O embate entre o "fazer dramaturgia" e a preocupação com a aproximação ao texto literário, além da preocupação em imprimir suas marcas no texto, causaram reação de queirosianos acerca da inserção de outros textos do autor e dos recursos melodramáticos utilizados na versão para a TV.
Durante as gravações da minissérie, a equipe passou cerca de seis semanas em Portugal e foi a primeira equipe de produção a ficar tanto tempo fora do país. Além disso,  mais de 70 pessoas compuseram a equipe técnica, composta por 26 atores. O diretor Luiz Fernando Carvalho enfatizou que as cenas em Lisboa e arredores eram para encontrar e reproduzir bem a obra de Eça de Queirós. O ator Osmar Prado, que interpretou o poeta Alencar, em depoimento no DVD, demonstra a mesma opinião, afirmando que a minissérie cumpria uma função social, a de despertar o interesse das pessoas pela literatura.
A minissérie obteve uma audiência média de 16,3 pontos percentuais em São Paulo e 17,7 no Rio de Janeiro, diante de uma expectativa de, pelo menos, 30 pontos de audiência (índice médio do horário), naquela época. Todavia, apesar desses índices de audiência da minissérie, o livro Os Maias, no mesmo período, tornou-se um best-seller nas livrarias (um aumento de 80% nas vendas).
Durante o ano de 2001, a minissérie recebeu os prémios de melhor cenografia, fotografia e direção de arte do II Festival Latino-Americano de Cine Vídeo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e marcou o retorno de Luiz Fernando Carvalho à equipe de diretores da Rede Globo, da qual estivera afastado por três anos, para as gravações do filme Lavoura Arcaica (2001).
Em 2004, o DVD Os Maias (versão do diretor) foi lançado pela Globo Vídeo, com a edição de Luiz Fernando Carvalho, que suprimiu os trechos da narrativa audiovisual que fazem referência aos romances A Relíquia e A Capital. O lançamento do DVD também possibilitou a abertura de espaços para a discussão de outras obras dos realizadores e comparações entre os seus trabalhos, além da discussão acerca da obra de Eça de Queirós.
Nas redes sociais e blogues, a discussão acerca da afinidade entre o texto literário e o texto televisivo continua ocorrendo, especialmente no que diz respeito ao material do DVD. De março a maio de 2012, o Canal Viva (da Rede Globo) reapresentou a minissérie, o que trouxe à agenda brasileira de fãs, o retorno das participações nos grupos de discussão.
A análise da minissérie Os Maias nos faz crer que essa produção constitui-se em um cuidadoso trabalho de adaptação. O atendimento aos "influxos televisivos" de que fala Maria Adelaide Amaral não impede que a minissérie seja um dos melhores produtos da televisão brasileira.

* A autora é doutorada em Comunicação e Cultura Contemporâneas e profª da Universidade do Tocantis 
Fonte: JL



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04 setembro 2013

PROMOÇÃO RESSACA LITERÁRIA PÓS -BIENAL


Olá leitores...
A Bienal já está quase terminando, e quem ainda não foi ou não vai poder ir deve estar desesperado (a). Pois com um grande evento como esse não da pra ficar de fora não é?! Por este motivo o Blog Retalhos no mundo se juntou com mais 13 blogs amigos para realizar uma promoção bem bacana pra você que não pode ir na Bienal e teve que ficar em casa chupando dedo. É claro que quem foi também pode participar. São 14 livros e 3 vencedores. O primeiro vencedor ganhará 5 livros, o segundo vencedor ganhará 5 livros e o terceiro vencedor ganhará 4 livros.



Blogs participantes:

- Livros e Marshmallows - Só Tenho Olhos pra Você;
- Por Uma Boa Leitura - Á Primeira Vista;
- Encantos Paralelos - Memórias Fictícias
- Livro Rosa Shock - Anna e o Beijo Francês;
- Minha Montanha Russa de Emoções - Água para Elefantes;
- Plastciodelic - O Lado Bom da Vida;
- Uma Dose de Palavras -  A Ordem Perdida;
- Sou eu Pri - Cores de Outono;
- Detalhe Feminino - O Simbolo Perdido;
- Livrinhos e Eu - Feérica;
- Borboletas do Saber - Fortaleza Digital;
- Retalhos no Mundo - O Código da Vinci;
- Rock'n Books - Para Sempre.

Regras:

- Preencher o formulário Rafflecopter corretamente;
- Seguir todos os blogs participantes;
- Deixar um comentário para validar a sua participação com e-mail;
- As demais chances são chances extras.


Informações:



- A promoção começa no dia 04/09 e vai até 04/10;

- Cada blog será responsável pelo envio de seu livro;
- Não nos responsabilizamos por atrasos, danos e extravio dos correios;
- O sorteado terá o prazo de 72 horas para responder o e-mail enviado, com todos os seus dados para o envio do livro.
- Em caso de ausência do sorteado em sua residencia e a volta do livro. O sorteado terá que arcar com as despesas do frete caso queira que o livro seja enviado novamente. 


Kit nº 1
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Kit nº 2
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Kit nº 3
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Ta esperando o que pra participar?? Vamos participar pessoal!!!

Boa Sorte!!
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