24 junho 2012

È dia de São João!

È dia de São João!
Texto de Jaqueline Li
(Revista Sorria)


Em junho o corpo se rende ao balanço da festa. Basta uma fogueira, o som da sanfona e as barracas cheias de diversão para se entregar aos melhores esportes de inverno.
O Tempo é de Quadrilha, bandeirinhas coloridas e paçoca. Nos meses mais frios do ano, os casais dançam junto ao som das sanfonas, ao redor da fogueira. Junho é a hora certa de ensaiar a mira nas barracas de jogos de argola e pescaria e sair com um prêmio, daqueles bem grandes, fazendo inveja aos outros. È a única oportunidade do ano para encarar a subida no quase impossível pau-de-sebo, o tronco liso que desafia os mais corajosos.
Essa brincadeira toda é para agradecer a São João, o padroeiro dos festejos. O 24 de junho, data de nascimento do santo, é um dos mais antigos dias de comemoração para os cristãos. Mas o mês ainda tem lugar para Santo Antônio e São Pedro, que abençoam as danças e os jogos. E não é só de santos que se faz um bom arraial. Pau-de-sebo e quadrilha são velhas tradições pagãs, que retribuem aos deuses as boas colheitas da época. Por aqui, elas incorporam a celebração religiosa e compôem um dos meses mais divertidos do ano. No meio da festança ninguém consegue resistir as barraquinhas cheias de prêmios, aos acordes da música caipira, as brincadeiras que entram noite adentro. Então, o  melhor a fazer é retirar do armário a camisa xadrez e render-se a esses esportes juninos!

No último pau-de-sebo

Tudo acontece em segundos. O grito da torcida, os pés machucados,  a coragem de, sozinho, alcançar a vitória. Mateus Marcarini ataca e, quando chega ao topo do tronco liso e ensebado, sente que valeu a pena. “ É como se fosse um jogador chegando na área para fazer o gol”, conta o professor de educação física, de 29 anos, craque na escalada de árvores, de troncos descascados e engordurados.Em Caxias do Sul(RS), onde mora, a  brincadeira do pau-de-sebo é conhecida pelo nome italiano de cuccagna (em português, cocanha, que significa abundância). A diferença é que, em vez de óleo usado para preparar a madeira em outras regiões do Brasil, no Sul o poste é um eucalipto que, ao ser descascado, libera a seiva. Mateus, que participa da atividade desde os 11 anos, já venceu quatro vezes a prova, que, em sua origem, é um modo de agradecer aos deuses a colheita farta. Para ele, a difícil tarefa de escalar um tronco escorregadio é como as brincadeiras de criança. “Quem viveu a experiência de correr no mato e comer fruta no pé aprendeu a subir em árvores. E, aí, a gente nunca mais esquece”, explica. Só que na cuccagna,os pés reclamam. “Para se firmar na escalada, eles ficam bastante esfolados”, conta. Para ele, além dos segundos de emoção e das lembranças da infância, o mais importante do jogo é perpetuar as tradições. “Eu me sinto honrado em resgatar as situações vividas por meus antepassados por meio dessa brincadeira “, diz.

Argola ao alvo

A paixão de Romi da Cunha são as argolas. Pesadas, de metal, que devem-se encaixar perfeitamente em alvos a metros de distância. A gerente de vendas de 53 anos é fascinada pelo jogo de argolas. Como não quer esperar junho para dedicar-se a essa paixão, ela vai duas ou três vezes por semana ao Centro de Tradições Gaúchas (CTG) de Embu das Artes, em São Paulo. Ali, onde a brincadeira está disponível o ano todo, ela arremessa os círculos de modo que fiquem planando no ar, como discos.
E, com tanto treino (e uma dose de sorte), acerta o alvo a 3 metros de distância.”Mas, tem dia que a gente não acerta nenhuma”, conta a jogadora, que descobriu que era boa na brincadeira cinco anos atrás.
Nas argolas, ganha mais pontos quem conseguir encaixar o maior número de arremessos. No CTG, há um torneio interno para os aficcionados, e Romi é uma das atletas que mais acumularam pontos, “ Na primeira semana, treinava muito para não ficar para trás, mas logo peguei o jeito”, conta. “ Tem de saber dosar a força, mas cada um inventa seu jeito de jogar”. Agora, ela participa até de campeonatos em outras cidades. Romi conta que a brincadeira- que treina a percepção visual e a coordenação motora- também é uma forma de fazer novas amizades. “Eu me sinto bem entre tantas pessoas simples e de bem com a vida”, diz. Tem prêmio melhor?

Olha a quadrilha!

Juliana Maria e Ronaldo da Silva são devotos da quadrilha. Dançando, a dona de casa de 22 anos  e o profissional autônomo de 27, conheceram-se apaixonaram-se e casaram-se. E nunca mais, abandonaram a religião dos passos e rodopios, embalados pela música caipira. “Para nós, arraial é como Carnaval. A gente se prepara o ano todo e, quando ouvimos o locutor dizer que a quadrilha vai começar, o coração bate muito forte”, diz Ronaldo, que além de dançar no grupo Tradição do Recife, é um dos costureiros dos figurinos, filho e irmão de quadrilheiros, ele começou aos 12 anos. Nessa época, a dança costumava combinar o balanço do ritmo da música (o balance) com as fitas compridas em que cada cavalheiro dá a mão á sua parceira (o passeio). Hoje, a coreografia da quadrilha pernambucana mistura os passos tradicionais, como o túnel e as caminhadas para frente e para trás, com movimentos cheios de giros, evoluções e sincronia entre os casais. São cerca de 150 pessoas envolvidas na quadrilha do Tradição, que tem o ponto dramático no casamento, com uma noiva tão leve e delicada que lembra uma bailarina clássica. A cena é como um teatro, com diálogos gravados e encenações coreografadas. Juliana entrou para o grupo de tanto vê-lo se apresentando em arraias da cidade. E pretende continuar dançando até o dia em que não puder mais se sustentar de pé. “Quero ser a coroa da quadrilha“. Ali, esqueço-me de tudo, rio às gargalhadas e desestresso ”, diz.


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