24 fevereiro 2012

Geografia do Modernismo: fora dos limites paulistas



Por Thaís Ferreira

"Eu vi o mundo... Ele começava no Recife", obra de Cicero Dias


O modernismo, movimento artístico característico do início do século XX, teve seu estopim no Brasil com a Semana de Arte Moderna. Há 90 anos, um grupo de artistas se reuniu no Teatro Municipal de São Paulo.



Esse fato, aparentemente sem importância, provocou uma ruptura nos padrões e nas concepções estéticas brasileiras. Essa seria apenas mais uma data, se o evento não tivesse reunido Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Tarsila do Amaral e Villa-Lobos.



Essa agitação artística é lembrada essencialmente como um movimento paulista, uma vez que seus principais representantes nasceram nesse estado e seu principal acontecimento, a Semana de Arte, ocorreu exatamente em sua capital.



No entanto, vários artistas de outros estados contribuíram de forma significativa para a disseminação do Modernismo. Conheça, agora, os nomes e as obras dos precursores e seguidores dessa concepção de arte.


Minas Gerais

A pequena e desconhecida cidade de Cataguases, a 300 quilômetros de Belo Horizonte, foi profundamente influenciada pelo projeto modernista.

Um de seus representantes foi o engenheiro civil, escritor e poeta Enrique de Resende.

Um de seus principais feitos foi fundar o Movimento Verde – nome dado à agitação modernista do município.


Os membros eram artistas e intelectuais locais, entre eles: Antônio Martins Mendes, Rosário Fusco e Ascânio Lopes.

O movimento tinha sua própria publicação, a Revista Verde, dirigida e idealizada por Resende.

O periódico não durou muito tempo, pouco mais de um ano, mas teve colaborações importantes, como Carlos Drummond de Andrade, Aníbal Machado e Mario de Andrade.

Poema de Enrique Resende:

DA ARTE

Pois que arte é criação, liberta o espírito.

Livra-o desses cuidados e dos zelos

que nutres pelos moldes, como se a arte
obedecesse a efêmeros modelos...


Rio Grande do Norte

Representante do modernismo potiguar, Jorge Fernandes nasceu em Natal, em 1887.
Trabalhou em uma fábrica de cigarros e foi caixeiro viajante.Escreveu e colaborou com diversos jornais e publicações.

Ele foi poeta e, apenas aos 40 anos, publicou seu único livro do gênero, o Livro de poemas.
Sem nunca sair do estado em que nasceu, mas fortemente influenciado, Fernandes incorporou em suas poesias vários elementos do Movimento Modernista, entre eles: versos livres, ausência de formalidade e marcas do regionalismo.

Sua escrita impressionou e sua produção figurou entre as mais notáveis publicações modernistas da época, como a Revista de antropofagia, a Terra Roxa & Outras Terras e Verde.

Trecho de Meu poema parnasiano nº 1, de Jorge Fernandes:

Meu poema parnasiano nº 1

Que linda manhã parnasiana...

Que vontade de escrever versos metrificados

Contadinhos nos dedos...
Chamar de reserva todas as rimas
Em ­ or ­ para rimar com amor...
Todas as rimas em ­ ade ­ pra rimar com saudade...
Todas as rimas em ­ uz ­ pra rimar com Jesus, cruz, luz...
Enfeitar de flores de afeto um soneto ajustadinho
Todo trancado na sua chave de ouro...
Remexo os velhos livros...



Pará



Entre os artistas paraenses, se destaca a obra de Ismael Nery. Nascido em 1900, em Belém, esse homem polivalente foi desenhista, pintor, arquiteto, filósofo e poeta, estudou no Rio de Janeiro e em vários países da Europa.



Durante suas viagens, foi influenciado por grandes nomes internacionais, como Pablo Picasso, André Breton e Marc Chagall.


Ao retornar para o Brasil, dedicou-se às pinturas surrealistas; contudo, suas obras diferem da concepção antropofágica e nacionalista de Oswald de Andrade.

Nery pregava uma arte com valores internacionais e de caráter universal.

Devido a essa concepção (não muito bem aceita na época), ele nunca chegou a fazer sucesso no país.

O pintor só teve seu talento reconhecido anos depois da sua morte, que aconteceu precocemente, em 1934.

Autorretrato de Ismael Nery
  
Pernambuco
 Cícero Dias, um importante pintor do movimento Modernista, nasceu no município de Escalada, a 50 quilômetros de Recife.

Estudou arte na capital fluminense, onde realizou sua primeira exposição individual.

O artista decidiu se mudar para Paris, onde viveu até 2003, ano em que faleceu.

Sua pintura é reconhecida por misturar tradições pernambucanas com as vanguardas internacionais.

O maior exemplo disso é o polêmico painel “Eu vi o mundo... Ele começava no Recife", exposto no I Salão de Arte Moderna, em 1932. A obra chocou o público conservador por causa da nudez retratada.

Maranhão

Um dos grandes nomes da Semana de Arte foi, sem dúvida, Graça Aranha. Nascido em São Luis, em 1868, ele foi magistrado em direito, diplomata, ensaísta, romancista e escritor, além de ser um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Após aderir ao Modernismo, esse maranhense polêmico chegou a declarar: "A fundação da Academia foi um equívoco e foi um erro". Dessa forma, suas concepções literárias se distanciaram profundamente das dos demais imortais, o que culminou com seu desligamento da instituição em 1924.

Durante o evento no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, Graça Aranha (foto ao lado) foi um dos principais organizadores e responsável pela fala inicial intitulada: A emoção estética na arte moderna.

Autor das obras Canaã, Malazarte e Viagem Maravilhosa, ele faleceu no Rio de Janeiro, em 1931.

“Nenhum preconceito é mais perturbador à concepção da arte que o da Beleza. [...] Cada um que se interrogue a si mesmo e responda que é a beleza? Onde repousa o critério infalível do belo? A arte é independente deste preconceito.” (Graça Aranha, Espírito Moderno, 1925)

fonte: Saraiva Conteúdo

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