Apresentação do Livro: Falando sobre Victor Hugo(no Livro)
Num país tão privilegiado com grandes autores, torna-se uma temeridade rotular-se este ou aquele como "o maior autor" e, claro, não o farei. De qualquer forma, posso garantir que Victor Hugo é, sem sombra de dúvida, um dos maiores de todos os tempos quando se fala de literatura francesa em particular e da literatura mundial em geral.
Nascido no início do século XIX-1802-, filho de um dos generais de Napoleão, Victor Marie Hugo viveria uma vida de peregrinações em sua infância, marcado pelas incessantes mudanças paternas e políticas que assolariam a França naquele tempo. Precoce intelectualmente e até sentimentalmente- se casaria com Adele Foucher alguns meses depois de completar dezoito anos- alcançaria rapidamente o sucesso através de obras como O Corcunda de Notre Dame, Trabalhadores do Mar, entre outros. Nesse meio tempo, se tornaria também um dos mais ardorosos defensores da República e participaria inclusive das várias agitações republicanas que sacudiriam o país a partir de 1830, experiência que o levaria a escrever Os Miseráveis um pouco depois da última delas, em 1848, e concluiria a obra anos mais tarde, na ilha de Guernesey, para onde fora banido por Napoleão III, a quem acusava de usurpador e tirano. De vida tumultuada e tão aventuresca quanto a de muitos de seus personagens, passaria por momentos igualmente infelizes- casamento infeliz, uma relação amorosa jamais completamente assumida, com a atriz Juliette Droust, todos os filhos mortos com exceção de uma filha, amargurado diante da ingratidão de alguns amigos. Aquele que seria aclamado como o Cidadão nº 1 da França, logo depois do lançamento de sua maior obra, considerado o maior poeta do país, estaria cercado por netos a quem chamava de "meus doces anjinhos", quando morreu no dia 22 de maio de 1885. Um homem simples em suas vontades finais deixou 50 mil francos para os pobres, exigiu ser levado ao cemitério num carro fúnebre humilde e apesar de recusar as preces de todas as igrejas garantia: "Creio em Deus".
Falando sobre a obra (Júlio Emílio Braz- texto incluso no livro)
Uma das obras-primas da Literatura Mundial, na minha opinião Os Miseráveis é o ponto alto do gênio criativo de Victor Hugo. Nele, mais do que em outros de seus belos livros, encontramos a completa e complexa constelação de personagens inesquecíveis, o desencandear dos sentimentos mais diversos que compõem a própria natureza humana, as forças, por vezes mágicas, dessa mesma existência. A força de convicções inabaláveis estão em suas páginas, provocando conflitos, conduzindo seus personagens a gestos por vezes extremados acrescentando a urgência e o desespero a sentimentos tão profundos quando completos quanto o amor e o ódio. Tendo como pano de fundo a França antes, mas acima de tudo após a Era Napoleônica, época de grandes conflitos e transformações, Hugo conseguiu neste gigantesco painel de vida e sacrifício apresentar-nos personagens que ficaram para sempre em nossa memória, a começar por Jan Valjean, o homem bom e humilde levado pela incompreensão cega e implacável da justiça à desumanidade de uma condenação cruel e injusta.
Verdade seja dita: criaturas de natureza tão benigna provocam reações desconfortáveis nos dias em que vivemos. Honestidade e caridade, a generosidade dos atos motivados simplesmente pela preocupações com o próximo ou pelo interesse de apenas fazer o bem, nos Os Miseráveis vale-se das vidas das pessoas tão comuns como eu e você para falar das grandes e dramáticas transformações que agitaram a Europa naqueles anos tumultuosos ao mesmo tempo que nos remete ao essencial de nossas existências tais como o amor, o ódio, a inveja e a generosidade nos quase intermináveis sacrifícios do ex- presidiário ou na retidão implacável de seu incansável perseguidor, o detetive Javert, sem contar aqueles que animam outras tantas dezenas de pequenas e grandes personagens. Aliás, não existem pequenos ou grandes nessa obra monumental. Todos são grandes, mesmo quando aparecem episodicamente em suas páginas. Impossível destacá-los ou minimizar este ou aquele. Todos interdependem. Todos estão irremediavelmente interligados em prol de uma teia infinita de dramas, tramas e acontecimentos onde, muitas vezes, o real se confunde com o imaginário, supremo elogio que se poderia destinar a uma obra literária. Em suma, Os Miseráveis é um livro que vale a pena ser conhecido em sua totalidade e cuja pálida amostra eu tive a coragem de produzir através dessa despretensiosa adaptação,
Espero que vocês gostem.
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