10 março 2011

Os diários públicos das mulheres

Maioria entre os internautas brasileiros, as mulheres também produzem conteúdo - e usam a rede para discutir seus sentimentos


Redação ÉPOCA

LIBERDADE

A cara da internet está cada vez mais feminina. Elas já são 46% dos usuários da rede mundial de computadores. E, ao que tudo indica, a presença delas no mundo virtual só deverá aumentar. No Brasil, o número de mulheres conectadas ao mundo digital em 2009, data do levantamento mais recente sobre o assunto, é maior do que o de homens. São 34 milhões de usuárias, 1 milhão a mais do que os brasileiros conectados.

Os números sugerem que as mulheres descobriram que a liberdade para se expressar e a interação, características básicas da internet, atendem sob medida a um dos anseios femininos mais comuns (e menos compreendidos pelo sexo oposto): compartilhar problemas e opiniões. Às vezes é mais do que uma necessidade de pedir conselhos. É, sobretudo, uma oportunidade de passar os pensamentos a limpo e, assim, encontrar soluções por conta própria.

A pedido de ÉPOCA, o instituto de pesquisa de mercado Qualibest ouviu 600 mulheres e descobriu que os blogs, uma espécie de mural digital de atualização fácil e simples, são uma das formas mais adotadas pelo público feminino para se comunicar. Mais de 20% das entrevistadas disseram manter blogs dedicados a discutir relacionamentos amorosos e sua vida íntima. Quase 70% delas são jovens entre 18 e 29 anos. “A blogosfera feminina costuma ser mais intimista e descompromissada do que a masculina”, diz Alexandre Inagaki, especialista em mídias sociais. “Os homens parecem mais preocupados em atrair grandes audiências e investem em assuntos como humor, carros e tecnologia.”

A carioca Renata Borges, de 28 anos, diz que aquilo que mais a atrai em um blog é a sensação de proximidade com a autora. “Gosto de ter a sensação de estar diante do diário de outra pessoa”, diz ela. Renata procura manter o mesmo espírito em seu próprio blog, fazendo dele uma espécie de diário em que relata fim de namoros e início de novos amores. A blogueira recifense Daniela Arrais, de 27 anos, diz ter descoberto um mundo para se expressar depois de ter criado em 2007 o blog Don’t Touch My Moleskine (http://donttouchmymoleskine.com/). Antes, seus amigos viviam reclamando que Daniela lotava a caixa de e-mails deles com fotos, links e vídeos que encontrava pela internet. “No meu blog, falo sobre o amor em suas várias manifestações: na música, na literatura, na arte, na fotografia.” Ela recebe mais de 60 mil visitas por mês. Daniela também criou uma série chamada “O que é o amor pra você hoje?”. De câmera digital na mão, gravou mais de 60 depoimentos com anônimos e famosos. Com nomes que vão de Marina Silva a Bruna Surfistinha, as entrevistas tiveram 10 mil visualizações no YouTube.

A força da internet é tão grande que transformou jovens blogueiras anônimas em referências no mundo da moda. É o caso de Camila Coutinho, de 22 anos, que atrai 40 mil visitas por dia ao Garotas Estúpidas. O sucesso trouxe anunciantes e fez do blog a profissão de Camila. Hoje, ela acompanha pessoalmente as principais semanas de moda do mundo e posta da sala de desfiles. “Em uma das semanas de moda de Nova York, eu não sabia se filmava, fotografava, tuitava, olhava a passarela ou observava as reações de Anna Wintour, a todo-poderosa editora-chefe da revista Vogue americana. Ela estava bem na minha frente.”

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