1933
Henrique VIII é o monarca inglês a quem o cinema e a televisão têm dedicado mais filmes e séries. Esta realização de Alexander Korda, datada de 1933, é uma das mais conhecidas e populares, apesar de um certo tom cómico que hoje soa muito deslocado, e de os historiadores lhe apontarem inúmeras e descaradas incorrecções históricas e toda uma série de liberdades factuais. Nomeadamente no que diz respeito às relações do monarca com as suas seis mulheres, e ao retrato de várias delas, bem como na própria representação da personalidade de Henrique VIII, interpretado por Charles Laughton, que recebeu o Óscar de Melhor Actor e que "carrega" o filme às costas. Entre outros, A Vida Privada de Henrique VIII conta ainda com as interpretações de Robert Donat, Merle Oberon (como Ana Bolena) e Elsa Lanchester, e foi um enorme sucesso na altura.
1939
A exemplo de seu pai, Henrique VIII, a rainha Isabel I é outra das figuras reais favoritas do cinema e da televisão, e é interpretada neste filme de Michael Curtiz por Bette Davis. Este drama romântico histórico está mais interessado em retratar a relação amorosa entre a rainha e o seu favorito, Robert Devereux, duque de Essex (Errol Flynn), que Isabel I acabaria por mandar decapitar. Anos mais tarde, em 1955, Bette Davis voltaria a personificar a "good queen Bess", agora já avançada nos anos, em A Rainha Virgem, de Henry Koster. Este é outro daqueles filmes em que as necessidades da intriga romântica levam a que a verdade histórica seja contornada ou mesmo alterada. Bette Davis queria que fosse Laurence Olivier a interpretar o duque de Essex, mas os produtores não quiseram arriscar num actor que era ainda pouco conhecido nos EUA, e preferiram Errol Flynn, então no auge da fama.
1968
Peter O'Toole, Katharine Hepburn, Anthony Hopkins, Timothy Dalton e Nigel Terry são os principais intérpretes desta adaptação ao cinema da peça de James Goldman, realizada por Anthony Harvey. Passado no século XII, O Leão no Inverno é uma especulação dramática sobre o confronto entre o rei Henrique II, primeiro monarca da dinastia Plantageneta, e a mulher, Leonor de Aquitânia, sobre quem sucederá àquele no trono de Inglaterra. O rei quer que seja o príncipe João (futuro João Sem-Terra), enquanto a rainha prefere o príncipe Ricardo, Coração de Leão (que sucederia ao pai como Ricardo I de Inglaterra). Um grande filme de actores e de argumento, O Leão no Inverno deu Óscares a Katharine Hepburn (Melhor Actriz, ex aequo com Barbra Streisand), John Barry (Banda Sonora) e James Goldman (Argumento).
1969
Geneviève Bujold é Ana Bolena, a segunda mulher de Henrique VIII, personificado por Richard Burton em Rainha por mil Dias, de Charles Jarrott, e cujo casamento com este está na origem da violenta ruptura do monarca, e da Igreja de Inglaterra, com Roma. O filme abre com o rei a ponderar sobre se deverá ou não mandar executar Ana Bolena, e depois conta, em flashback, toda a história da relação entre Henrique VIII e a irmã de Maria Bolena, com quem este estava amorosamente envolvido antes de se deixar atrair pela adolescente Ana, mãe da futura rainha Isabel I. Rainha por mil Dias termina com a execução da rainha e Henrique já a pensar no seu terceiro casamento, com Jane Seymour. Ana Bolena sai muito favoravelmente retratada do filme, que a apresenta como inocente das acusações de adultério, incesto e feitiçaria, que levariam à sua decapitação.
1970
Entre 1653 e 1658, após a derrota das forças realistas na guerra civil e a execução do rei Carlos I, a Inglaterra foi uma República e o terratenente, parlamentar e comandante militar puritano Oliver Cromwell governou como Lorde Protector de Inglaterra, Escócia e Irlanda. No filme de Ken Hughes, Cromwell é personificado por Richard Harris e Sir Alec Guinness interpreta o rei Jaime I. Esta grande produção histórica foi abundantemente criticada, não só por conter muitas incorrecções, simplificações e omissões (caso das brutalidades várias e dos massacres cometidos durante a invasão da Irlanda pelas tropas puritanas), como também por dar um retrato alegadamente nobre e heróico demais de Richard Cromwell, que muitos historiadores britânicos consideram ter não ter sido mais do um fanático religioso e um tirano regicida.
1971
Na sequência do sucesso comercial de Rainha por mil Dias, o realizador britânico Charles Jarrott regressou à história de Inglaterra com este filme sobre o confronto entre Maria Stuart, rainha da Escócia e católica, e Isabel I, rainha de Inglaterra e protestante, que acabaria com a execução da monarca escocesa em 1587, acusada de conspiração e de traição, 19 anos depois de ter sido encarcerada a mando da primeira. Vanessa Redgrave interpreta Maria Stuart e Glenda Jackson dá corpo a Isabel I. No mesmo ano, Jackson voltaria a personificar a filha de Henrique VIII na aclamada série de televisão Isabel I, que a RTP exibiu em Portugal. O filme não foi muito bem recebido, quer pelos críticos quer pelos historiadores, tendo sido acusado de inventar factos e de ter contemplado uma abordagem demasiadamente telenovelesca aos acontecimentos e às figuras das duas rainhas.
1991
David S. Ward realizou esta rara comédia sobre a monarquia britânica, em que a casa de Windsor surge com o nome de casa de Wyndham. Depois de a família real em peso ter morrido electrocutada quando tirava uma fotografia de conjunto durante uma trovoada, o Governo britânico começa a busca por um descendente vivo, mesmo que remoto, que possa ascender ao trono e dar continuidade à monarquia. E vão encontrá-lo em Las Vegas, na pessoa de Ralph Jones (John Goodman), um bonacheirão e boçal pianista e cantor de bares de casinos, que é trazido para Inglaterra para ser devidamente treinado e "polido", antes de ascender ao trono. Aparentemente uma sátira à monarquia, King Ralph - O Primeiro Rei Americano acaba por ser um filme bastante simpático para com este regime.
1994
Alan Bennett escreveu a peça The Madness of George III, que teve um estrondoso sucesso nos palcos londrinos, e Nicholas Hytner transportou-a ao cinema com o título A Loucura do Rei George. É a história verídica da deterioração mental do rei George III de Inglaterra (interpretado por Nigel Hawthorne, conhecido em Portugal pelas séries Sim, Senhor Ministro, e Sim, Senhor Primeiro-Ministro), que reinou entre 1738 e 1820, e dos problemas políticos e familiares a que deu origem, caso da Crise da Regência, entre 1788 e 1789, que quase levou ao trono o príncipe de Gales, por incapacidade do pai (que entretanto se recuperaria e reinaria até 1810). O filme faz ainda um retrato arrepiante do estado da medicina nos finais do século XVIII, sobretudo no que tinha que ver com o tratamento das perturbações mentais. Helen Mirren recebeu o Óscar de Melhor Actriz Secundária pelo seu papel da rainha Charlotte.
1997
Este filme de John Madden conta a história da relação de amizade que, durante longos anos, uniu a rainha Vitória e John Brown, um criado escocês da sua propriedade de Balmoral, após a morte do príncipe Alberto, em 1861. Brown tinha sido um devotado servidor do falecido príncipe consorte e vários dos membros da corte acharam que ele poderia ser a pessoa ideal para atenuar a profunda dor da monarca, conseguir que ela voltasse a aparecer em público e retomasse a sua vida normal. John Brown não só conseguiu tudo isso como também se tornou numa das pessoas mais próximas da rainha, ganhando uma enorme influência junto dela. À época, chegou a suspeitar-se de que ela e Brown teriam tido uma relação íntima, e mesmo casado em segredo. Judi Dench interpreta rainha Vitória e Billy Connoly é o lealíssimo John Brown.
2006
Stephen Frears realizou e Peter Morgan escreveu aquele que é um dos melhores filmes já feitos sobre a monarquia britânica, uma ficção baseada em muitos elementos reais, sobre a forma como a Rainha Isabel II (Helen Mirren) reagiu à morte da princesa Diana, em 31 de Agosto de 1997. Em paralelo, Frears recria a reacção do Governo de Tony Blair à tragédia, contrastando o desejo da família real de tratar a morte de Diana e suas exéquias de forma recatada e privada, com as opiniões do recém- -nomeado primeiro-ministro e do príncipe Carlos, que acham necessária uma manifestação de dor mais pública, em sintonia com os desejos do povo e de acordo com a imensa popularidade de que Diana gozava. A Rainha teve o Prémio do Melhor Argumento no Festival de Veneza, e Helen Mirren ganhou numerosos prémios de Melhor Actriz, entre eles o Óscar, o Globo de Ouro e a Taça Volpi em Veneza.
2009
Realizado por um canadiano, Jean-Marc Valée, e escrito por Julian Fellowes (Gosford Park), e contando com Martin Scorsese entre os seus produtores, A Jovem Vitória procura reconstituir a ascensão ao trono da rainha Vitória, os seus primeiros anos de reinado e o casamento com o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, retratando os problemas familiares e políticos que teve de enfrentar, antes e depois de ser coroada, e a maneira como procurou impor a sua vontade e personalidade na corte e na vida política da Grã-Bretanha. Esta imponente produção, que tem Emily Blunt no papel da rainha Vitória e Rupert Friend na figura do príncipe Alberto, não consegue fugir a uma ligeireza cor-de-rosa de minissérie televisiva "de prestígio", em que a riqueza e o luxo da produção se sobrepõem a uma abordagem íntima, histórica e política mais detalhada e complexa.
2010
Ou como o duque de Iorque se viu inesperadamente no trono como Jorge VI em 1936, mesmo à beira da II Guerra Mundial, após a súbita e escandalosa abdicação do irmão, Eduardo VIII, por amor à sua amante americana, Wallis Simpson, e conseguiu controlar e atenuar a sua terrível gaguez graças aos métodos heterodoxos de um obscuro, desembaraçado e persistente terapeuta da fala australiano chamado Lionel Logue. Realizado por Tom Hooper e interpretado por Colin Firth (Jorge VI) e Geoffrey Rush (Logue), O Discurso do Rei foi escrito por David Seidler, que teve acesso aos arquivos e aos cadernos de apontamentos de Lionel Logue, e é também um filme sobre as diferenças de classe na Inglaterra dos anos 30, e sobre uma amizade improvável entre um monarca e um plebeu das "colónias". Ganhou os Óscares de Melhor Realizador, Filme, Actor e Argumento Original.