A africana fugiu de seu país para lutar contra um do problema que assombra as mulheres até hoje: a Mutilação Genital Feminina
Waris Dirie, ex-modelo e Embaixadora da ONU
Convidada para ser uma das musas do Carnaval deste ano como rainha do Camarote Bar Brahma, a somaliana Waris Dirie, embaixadora da ONU, foi vítima de Mutilação Genital Feminina (MFG) aos cinco anos e fugiu de seu país aos treze. Ela tornou-se um ícone das passarelas após ser descoberta como modelo aos 18 anos e hoje é precursora de uma fundação, a Waris Dirie Foundation, que começou em 2002, e tem a missão de erradicar a MGF. A seguir, leia a entrevista com Waris Dirie.
iG: Como você se sente por ter sido convidada para ser uma das musas do Carnaval?
Waris Dirie: Eu me sinto ótima. Finalmente, poderei ver o verdadeiro Carnaval, passar por esta experiência. Por muitos anos eu quis vir para cá, e agora que tive essa chance, estou muito feliz.
iG: Você acredita que esta visita vai ajudar na luta da sua fundação contra a MGF?
Waris Dirie: Acredito que sim. Não apenas no Brasil, mas acredito que todo o mundo deveria saber mais sobre o problema da mutilação genital feminina. O Brasil não conhece muito sobre isso, então é importante divulgar as informações.
iG: A MGF ainda é um grande problema, principalmente na África. Você acredita que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que ela acabe?
Waris Dirie: Sim, acontece na África, mas também em outros lugares do mundo. No entanto, realmente acredito que irá chegar ao fim em breve. Talvez seja minha intuição, mas acho que falta pouco. É preciso acabar com isso, algo tão errado e contra todos os direitos.
iG: Como você vê sua influência ao redor do mundo, especialmente para as mulheres, como ex-modelo e Embaixadora da ONU para a eliminação da MGF?
Waris Dirie: Apenas senti que a MGF é um crime, que é algo errado, algo muito ruim que acontece com muitas mulheres e ninguém faz nada contra isso. Esta é a maneira que eu penso e não me importo com o que os outros vão pensar de mim, afinal, todos deveriam estar lutando. Eu acabei representando todas as mulheres que enfrentam este problema. Eu sou a voz para elas que não possuem uma voz, ou que estão sendo ignoradas. Então, eu represento todas as mulheres neste aspecto. Eu falo, eu penso e acredito em todos os direitos de uma mulher. De todas as mulheres no mundo.
iG: Embora os procedimentos da MGF sejam, na maioria das vezes, realizados por mulheres, também existe uma influência masculina sobre esta prática? Como isto acontece?
Waris Dirie: Absolutamente. Os homens precisam vender suas filhas em troca de dinheiro. É o homem que ordena para que sua garotinha seja mutilada, ela não vale nada, ela não pode estar com um homem se não é vítima da mutilação genital. Esta é uma das razões pela qual a MGF ainda continua, para que as meninas sejam trocadas, seja por dinheiro ou por qualquer outra coisa. Tornou-se um modo de comércio. Então é um problema terrível, porque a pobreza faz com que ele aconteça. Acredito que se nos livrarmos da miséria, nós também nos livraríamos da MGF.
iG: Quem você acha que pode mais ajudar?
Waris Dirie: Políticos. De todos os governos do mundo. Se todos eles se levantarem na mesma hora, se eles disserem não em todos os lugares do mundo, a MGF acaba. Eles possuem o poder, eles possuem uma maneira para resolver este problema. Eles estão na posição certa para isso.
iG: E você acredita que há muitas mulheres lutando contra a MGF também?
Waris Dirie: Sim, e é por isto que eu acredito que estamos chegando perto do fim. Na Somália, por exemplo, muitas mulheres que pensavam que não tinham chance em mudar, de dar um basta para este crime, não pensam mais assim. As mulheres agora possuem mais informações para lutar contra a MGF. Há uma grande mudança acontecendo, mas ainda não é o bastante. Infelizmente, ainda existe o problema.
Renata Losso, especial para iG São Paulo
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