21 julho 2010

Ética da diversidade na abordagem da deficiência

Há duas formas distintas de se pensar a deficiência: uma, mais antiga, se baseia no modelo médico; a outra, representando a tendência atual, baseia-se no modelo social.

O modelo médico tem como principal característica a descontextualização da deficiência, isto é, toma-a como incidente isolado e sem relação com questões de interesse público e relevância econômica, política ou social. No enfoque do modelo médico, o problema reside na pessoa, com consequências somente para ela e sua família, ficando a sociedade isenta de qualquer responsabilidade e compromisso para com a desconstrução de processos de discriminação. A cura ou quase cura das lesões e limitações torna-se condição para acesso a determinados direitos.

Já o modelo social considera que a maior parte das dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência resulta da forma como a sociedade trata as limitações físicas, intelectuais, sensoriais ou múltiplas de cada indivíduo. A deficiência é entendida como construção coletiva e condição flexível, não necessariamente permanente. Afinal, se as barreiras de acesso são removidas, a relação de desvantagem passa a ser parcial ou, mesmo, completamente abolida.

O modelo social está relacionado ao desenvolvimento inclusivo e à ética da diversidade, que combate a homogeneidade e privilegia ambientes heterogêneos, celebrando toda e qualquer diferença entre pessoas. Cada um, da forma como é, contribui com sua experiência e seus recursos, em benefício de todos. Do ponto de vista da ética da diversidade, as pessoas com deficiência não representam um equívoco, um deslize da natureza que gerou seres anômalos, a serem aceitos, tolerados, ou respeitados.

Estratégias vêm sendo incorporadas por organizações empresariais, governamentais e não governamentais — regionais e internacionais —, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, na busca de alianças e ações que gerem programas e políticas públicas inclusivas. Beneficiam-se não só as pessoas com deficiência, como outros grupos em situação de vulnerabilidade, como crianças trabalhadoras, coletores de Ética da diversidade na abordagem da deficiêncialixo, indígenas, pessoas com vírus HIV e pessoas com orientação homossexual.

No que se refere à implementação de políticas de desenvolvimento inclusivo, a ética da diversidade deve ser sistematicamente trabalhada e incentivada pelos meios e profissionais de comunicação, levando-se em conta orientações como:

1) Manter, ao escrever sobre deficiência ou ao analisar qualquer política pública, o mesmo rigor que caracteriza a abordagem de temas de outras áreas, como a econômica, por exemplo, entre outras.

2) Desconfiar de qualquer enfoque que marque pessoas com deficiência como pertencentes a um grupo homogêneo de cidadãos. (Exemplo: crianças com síndrome de Down têm sempre muito carinho para dar...)

3) Lembrar que sobre-estimar pessoas com deficiência, transformando-as em super-heroínas, é tão discriminatório quanto subestimá-las, porque ambos os enfoques lhes tiram o direito à individualidade.

4) Desenvolver uma visão crítica de discursos que valorizam ambientes homogêneos como ideais para o desenvolvimento humano.

5) Provocar e/ou reforçar alianças entre profissionais de diferentes áreas.

6) Tomar como base para suas reflexões e análises diárias as seguintes associações: modelo médico/ambiente homogêneo e modelo social/ambiente heterogêneo. Partindo-se do princípio de que os modelos médico e social não se apresentam de forma clara, como aprender a diferenciá-los? O quadro a seguir põe lado a lado as características de cada um, de modo a evidenciar suas diferenças.

Texto adaptado das publicações Manual da Mídia Legal 3 — Comunicadores pela Saúde e Manual sobre Desarrollo Inclusivo Para los Medios y Profissionales de la Comunicación, ambas editadas pela Escola de Gente Comunicação em Inclusão. As publicações podem ser acessadas em www.escoladegente.org.br

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