Ilha do Medo
(Shutter Island)
Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Michelle Williams, Max von Sydow, Emily Mortimer, Jackie Earle Haley, Patricia Clarkson.
Direção: Martin Scorsese
Duração: 138 min.
Distribuidora: Paramount Pictures
Estreia: 12 de Março de 2010
Sinopse: Em 1954, uma dupla de agentes federais investiga o desaparecimento de uma assassina que estava hospitalizada. Ao viajarem para Shutter Island - ilha localizada em Massachusetts - para cuidar do caso, eles enfrentam desde uma rebelião de presos a um furacão, ficando presos no local e emaranhados numa rede de intrigas.
Curiosidades:
» O livro Shutter Island é o terceiro de Dennis Lehane a ser levado para as telas, depois de 'Sobre Meninos e Lobos' (Mystic River), de Clint Eastwood, e o filme de Estreia de Ben Affleck como diretor 'Medo da Verdade' (Gone Baby Gone).
» O título nacional inicial era 'Paciente 67'.
» O filme se chamaria 'Shutter Island', teve o título alterado para 'Ashecliffe' e voltou a se chamar 'Shutter Island'.
http://www.traileraddict.com/trailer/shutter-island/feature-trailer
Crítica por: Janaina Pereira
Um dos maiores diretores americanos da atualidade, Martin Scorsese está de volta após dois anos de hiato. Desde que venceu o Oscar 2008 com Os Infiltrados, o diretor vinha trabalhando em uma história para retorno triunfal. E esta história é a adaptação do livro Paciente 67, de Dennis Lehane (autor também do livro que se transformou em uma das melhores obras de Clint Eastwood, Sobre Meninos e Lobos). Exibido em grande circuito e arrastando multidões aos cinemas, Ilha do Medo (Shutter Island) é a grande homenagem de Scorsese ao cinema. Porque todo grande diretor tem que fazer seu 'filme-referência' - Almodóvar fez o dele, com o recente Abraços Partidos.
Assim como Almodóvar, Scorcese não foi muito feliz em sua esolha. Peca, especialmente, por escolher uma história manjadíssima, daquelas que antes da metade do filme você já saca o final. Não há surpresa, não há mistério, não há nada de novo. Ilha do Medo é piada velha, frustrante. Nem precisa ler o livro - quem leu, garante que a adaptação é fiel, quem não leu, não vai ler porque o filme não desperta essa curiosidade.
Mas, assim como Almodóvar também, Scorsese tem seus fãs fiéis. E sabe filmar seu atual ator preferido, Leonardo Di Caprio, como ninguém. Repetindo uma dobradinha que vem dando certo nos últimos anos, a dupla se tornou cúmplice a tal ponto que, atualmente, ninguém filma Di Caprio com o olhar carinhoso que Scorsese tem por ele. O cineasta consegue mostrar muito mais do que a beleza de Leo - é o talento cada vez mais maduro do ator que fica evidente mais uma vez.
A trama - que chama mais atenção pelos toques hitchcockianos e pela homenagem aos filmes noir - começa no melhor estilo dos filmes do mestre do suspense. A trilha, pesada e marcante, é o ponto alto. A história, no entanto, dá reviravoltas pouco inteligentes. Teddy Daniels (Di Caprio) chega ao presídio psiquiátrico na ilha Shutter acompanhado de nosso novo companheiro, o agente Chuck Aule (Mark Ruffalo). A princípio parece que ele só está lá para investigar o desaparecimento de uma paciente, mas logo descobrimos que Teddy tem questões particulares que o assombram desde a morte de sua esposa, Dolores (Michelle Williams) e a ilha é o lugar para esclarecer tudo.
O filme conta com as preciosas participações de Patricia Clarkson, Ben Kingsley e Max von Sydow, atores que conseguem dar o tom certo a personagens ambíguos e misteriosos. É um bom entretenimento, e se salva mesmo nos três minutos finais, no último diálogo que pode gerar inúmeras interpretações, mas que do meu ponto de vista, tem um significado só.
Apesar de todo clima de terror, da bela fotografia, e do envolvimento que a trama proporciona, não me convenceu. Ainda acho Os bons companheiros o melhor Scorsese de todos. Ainda acho Os Infiltrados melhor do que Ilha do Medo. Mas também acho que Scorsese + Di Caprio formam a verdadeira dupla dinâmica do cinema.
Ilha do Medo é uma espécie de O Gabinete do Dr. Caligari quase 100 anos depois. É uma grande homenagem a diversos genêros cinematográficos e, por que não, a chance de Scoserse exercitar seu lado hitchcockiano. Ele tem todo direito e mérito por fazer isso. O que não significa que soube fazer bem feito.
(Brideshead)
(Chico Xavier - O Filme)
Crítica por: Janaina Pereira
O Brasil é uma país falsamente católico. Ok, oficialmente o catolicismo é a nossa religião, mas muita gente tem um pé no espiritismo. Grande parte dessa força pelo desconhecido vem de nomes como Bezerra de Menezes, o médico que era médium, e Frâncisco Cândido Xavier, o médium que psicografava mensagens do além.
Se você não conhece a doutrina espírita, talvez o filme Chico Xavier, de Daniel Filho, não lhe diga nada. Mas acho pouco provável que alguém não saiba, minimante, quem foi Chico. Homem que atraia multidões ao seu centro espírita, durante muitos anos ele recebeu o título de maior médium brasileiro, tornando-se um símbolo do espiritismo. Calmo, sereno e cheio de fé, Chico Xavier psicografou mais de 400 livros, sem receber direitos autorais e vivendo apenas de seu salário - e posterior aposentadoria - de funcionário público.
Chico Xavier, o filme, estreiou justamente quando seu protagonista, que morreu em 2002, completaria um século de vida. Este é o primeiro de uma série de filmes em homenagem a este homem especial, figura ímpar do universo de bondade que mal estamos acostumados a conviver. E é esta bondade que o longa mostra com convicção.
A partir de uma entrevista dada por Chico nos anos 1970, para a TV Tupi, o filme se desenrola apresentando alguns fatos da vida do médium, desde sua infância - e a influência espiritual da mãe (vivida por Letícia Sabatella) e influência psicológica da madrasta (interpretada por Giovanna Antonelli).
A vida adulta, em que começa a psicografar e é acusado de ser uma grande farsa, também ganha destaque no longa. Neste período, Chico Xavier é interpretado pelo ator Ângelo Antônio (que já fez outro Chico no cinema, o Francisco pai de Zezé di Camargo e Luciano).
Mas é em sua fase envelhecida, quando Nelson Xavier assume o papel de Chico, que o filme se apóia. Com semelhança física e repetindo gestos e trejeitos do médium, o ator consegue uma intepretação sólida e, porque não, mediúnica. É a própria reencarnação de Chico Xavier.
É nesta fase também que o longa aborda como o médium se tornou figura importante da sociedade brasileira, ao ter uma de suas cartas psicografadas usadas para absolver um rapaz acusado de assassinato.
Apesar das boas intenções, Chico Xavier, o filme, é global demais para o meu gosto. Parece que havia uma necessidade absurda de encaixar todos os atores da Globo no filme, o que torna o longa uma espécie de Globo Repórter com um toque de Por toda minha vida, o programa em que a Globo homenageia personalidades da música já falecidas.
Uma das grandes falhas do roteiro - baseado no livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Mayor - é dar ênfase ao espírito Emmanuel (intepretado pelo insosso André Dias), o principal guia de Chico, deixando de lado André Luiz, o espírito que deu ao médium diversas psicografias importantes, entre elas a do livro Nosso Lar, o mais importante do espiritismo brasileiro (que chega em adaptação aos cinemas no segundo semestre deste ano).
O interessante é que o roteiro superficial não vai impedir que milhares de pessoas assistam ao filme. Em seu dia de estréia - o feriado católico da sexta-feira santa, dia 2 de abril, exatamente o dia em que Chico completaria 100 anos - os cinemas lotaram, com o filme aplaudido ao final. Ninguém saia até os créditos terminarem. Impressionante. Isso mostra que o homem Chico Xavier é muito mais forte do que qualquer filme possa retratar.
Eu, particularmente, tenho admiração profunda por Chico, uma dessas figuras especiais que passam pela Terra com uma missão única. E que ensinou que não devemos temer os mortos. O medo maior deve ser dos vivos.
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