13 julho 2013

Outras Estantes: Eça Agora: Manuela Moura Guedes é o Artur Corvelo

Não é tanto a fragilidade emocional de Artur Corvelo, personagem central do romance "A Capital", que faz recordar a jornalista Manuela Moura Guedes. Nem tão-pouco a sua desastrada carreira artística - ele deixa o seu livro de poemas, "Esmaltes e Joias", a amarelecer nos escaparates das livrarias; ela deixa o seu disco "Foram Cardos Foram Prosas" sem sequência.
Há outros pontos em que os dois se encontram: ambos colaboram na comunicação social e de ambos se começa por esperar muito mais do que vêm a revelar. Desiludido, Corvelo volta a Oliveira de Azeméis para trabalhar na farmácia onde já praticara. Por seu lado, Manuela, embora não possamos saber se está ou não desiludida, também desapareceu e não necessariamente para a sua Torres Vedras natal. Que é feito dos magníficos jornais da noite de sucesso incontroverso? E já lá vão uns bons anos! Que é feito do seu estilo inovador? Desapareceu nas brumas... Será que, como a personagem de Eça, conspira contra a sociedade - agora não num clube republicano mas numa agremiação monárquica? Ou antissocrática? Quem sabe?
Vale à talentosa Manuela o facto de João Gaspar Simões ter considerado Corvelo como a mais autobiográfica das personagens queirosianas e também o facto de Carlos Reis salientar que o romance "A Capital", ficando inacabado, não nos diz o desfecho do angustiado Artur. Pode, pois, Manuela Moura Guedes voltar em força, sem nos estragar este paralelismo... Quem sabe as voltas que a vida da personagem ainda ia dar? Se os "Esmaltes e Joias" não seriam, mais tarde, um sucesso? Se a Manuela não volta aos palcos para nos cantar um fado?
 Fonte: Jornal Expresso

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