O jornalismo brasileiro perdeu um grande craque das palavras(em 29/03/10) . Armando Nogueira dirigiu o jornalismo da TV Globo entre os anos 60 e 90. Ele tinha 83 anos e sofria de um câncer no cérebro.
O velório ocorre na Tribuna de Honra do Maracanã. O estádio foi cenário de grandes jogos, que inspiraram muitos textos de Armando Nogueira. O grande prazer: escrever sobre futebol.
O câncer no cérebro foi diagnosticado em 2007. Armando Nogueira estava sendo tratado em casa, onde foi montada uma UTI, e morreu nesta segunda-feira, de manhã, por volta de sete horas.
O governador Sergio Cabral e o prefeito Eduardo Paes decretaram luto oficial de três dias. O jornalista era torcedor do Botafogo. O time enfrenta o Boa Vista logo mais a noite pelo Campeonato Carioca e os jogadores usarão tarja preta em sinal de luto. Uma homenagem ao homem que fez historia no jornalismo brasileiro.
“O Armando Nogueira foi o responsável pela implantação do jornalismo brasileiro de televisão como nós conhecemos hoje. Fica a lembrança de um ser humano completo, usando um termo esportivo que ele gostava polivalente: poeta, músico, um grande amigo e um profissional extraordinário”, fala José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, empresário.
Nasceu aviador... Mas um acidente mudaria a rota do voo de Armando Nogueira. No Rio de Janeiro, o menino do Acre virou jornalista. Começou no "Diário Carioca" em grande estilo: na Copa de 1950.
“A rigor, eu ainda não estava nem no exercício da profissão, eu não sabia fazer nada mesmo, e eu estava apenas corujando o trabalho dos profissionais, mas pude ver os jogos da Copa do Mundo de 50 com a prerrogativa de não pagar ingresso, sentado na tribuna de imprensa”.
Armando passou pelas revistas "Manchete" e "O Cruzeiro", e pelo "Jornal do Brasil". Uniu-se a grandes nomes na extinta TV Rio para inaugurar um novo estilo: a mesa redonda esportiva.
“A gente saía do Maracanã, passava em casa eventualmente, e depois ia para o estúdio da TV Rio, onde se travava um verdadeiro tiroteio entre os cronistas torcedores”.
Em 1965, quando a Rede Globo foi criada, Armando foi convidado para essa aventura em um veículo sem tradição de jornalismo - a televisão. Poucos tiveram essa coragem.
“Então só nos restou ir fazer um recrutamento na faculdade. Fomos buscar moças e rapazes totalmente despreparados, mas com vontade, com garra, com subsídios, com uma formação humanística de faculdade e com isso, nós conseguimos dura e lentamente formar uma equipe”.
Armando comandou a criação do "Jornal Nacional". “Cid Moreira e Armando Nogueira, a voz e a cabeça do primeiro Jornal Nacional".
Das paixões, a mais conhecida delas era o futebol, mas Armando tinha uma obsessão: a palavra. “Palavra é um ser vivo, nasce, cresce, morre, tem vantagem sobre nós, criaturas humanas, a palavra ressuscita”.
E depois do jornal impresso e da televisão, invadiu a TV a cabo e a internet.
"A vida é um leque, eu imagino a vida como sendo um leque que o tempo vai fechando, o meu sonho é que eu não deixe que esse leque se feche de todo. Se eu conseguir ter pela vida, manter pela vida o encanto que eu tenho, o fascínio que eu tenho quando eu voo no meu ultraleve, quando eu folheio Borges, Machado de Assis, Paulo Mendes Campos. Se eu conseguir manter esse mesmo fascínio pelo que me resta de vida, eu considero que afinal de contas eu tive um bom sonho".
Tatiana Nascimento - Rio de Janeiro
Beatriz Thielmann
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