05 abril 2010

A Arte de Meditar

Julio Daio Borges


A Arte de Meditar, de Matthieu Ricard

Um dos maiores imperativos dos últimos tempos, em conversas sobre administração (do que quer que seja), é “tenha foco”(1). Pessoas “desfocadas” – não confundir com o personagem de Woody Allen(2) – geralmente atiram em todas as direções e não acertam em quase nada. Ter “foco” significa, além de persistir, ter um objetivo claro em mente e não ceder às distrações de cada momento. No mundo do Twitter, isso parece quase uma impossibilidade filosófica – mas existe uma saída. Por incrível que pareça, chama-se meditação. Meditar não é levitar, andar sobre as águas ou tentar mover uma montanha com a força do pensamento. Também não é uma religião. É, na falta de melhores palavras, a prática da concentração. Quem medita, não fica num esforço inútil olhando para o nada e, milagrosamente, chegando a grandes conclusões. Simplesmente aprende a se concentrar num objetivo; ou – no modo mais avançando – a se concentrar na própria concentração. E o exercício diário da meditação traz benefícios para outras situações de “não-meditação”. No trabalho, por exemplo. Quando é preciso mudar de uma tarefa para outra, e entrar rápido num outro assunto, concentrar-se nele, resolver o problema e passar à próxima atividade. No trânsito. Quando alguém te xinga e você, respirando fundo, evita bater seu carro, perseguir o agressor ou, até mesmo, xingá-lo de volta. Nos relacionamentos. Quando você consegue olhar a situação “de fora”. E tomar uma decisão mais objetiva, mais ancorada na realidade – menos pessoal, menos baseada em suposições... Claro, a meditação também serve para valorizar a vida, para aproveitar, melhor, cada segundo e para exercitar a compaixão. Mas nem todo mundo quer virar o Dalai Lama(3). Para quem não quer – ou não pode – virar monge, a editora Globo lançou A Arte de Meditar(4). Não é autoajuda e não é filosofia barata. É um guia prático, e rápido, para quem quer se exercitar – digamos assim – na própria concentração. Quem escreveu foi Matthieu Ricard, o embaixador do budismo na França, mas não se trata de um guru com mensagens vazias ou abstrusas – A Arte de Meditar foi escrito para pessoas como nós. Afinal, o Twitter pode nos salvar – e nos matar também...


(1)
Tenha foco
Se você deseja colecionar vitórias, precisa ter foco naquilo que almeja alcançar. Isso porque é grande o número de pessoas que se perdem durante o caminho, simplesmente por fazerem coisas que não precisam, tirando a atenção daquilo que realmente precisa ser feito.

Ter foco é saber exatamente onde se deseja chegar.

Ter foco é estabelecer metas claras que o levem ao lugar desejado.

Ter foco é não perder tempo.

Ter foco é ter um mapa para se orientar

Ter foco é ser perseverante para não desistir

Faça uma pausa e observe es o seu foco está nos problemas ou nas soluções que precisa alcançar. Não perca tempo com coisas e conversas sem sentido. Siga firme no seu propósito. Afinal, a vida é muito breve para se perder tempo com coisas supérfluas.

Que a partir de hoje seu foco seja o sucesso, trabalho contínuo, fazer o bem a todos à sua volta, pois quem tem foco sabe exatamente aonde quer chegar.


(2)
http://www.youtube.com/watch?v=g0FSYKcV2Mk

(3)
Matrix, ou o camarada Buda

Alexandre Ramos

É muito raro eu conseguir ler ou ouvir alguma coisa que preste sobre a assim chamada "sabedoria oriental". Normalmente, aquilo que aparece não só não me convence como ainda consola das misérias deste nosso decadente Ocidente. Vejam a Índia, por exemplo. Tudo lá é sagrado: o rio Ganges, as vacas, os macacos que vivem nos templos, certas árvores, tudo é sagrado. Tudo, menos a vida humana. Há poucos anos (1) fiquei encantado com a sabedoria de uma aldeia que assassinou um casal de adolescentes que, pertencendo a castas diferentes, cometeram o abominável crime de se apaixonar. As respectivas famílias e vizinhos primeiro tentaram enforcar os jovens, mas como eles demoravam para morrer acenderam uma fogueira embaixo. Muito sábio.

Mas sábia mesmo, pra valer, é a China. Depois de ter obtido um relativo sucesso na destruição da cultura milenar do país, o governo comunista está agora dando o maior duro para controlar quaisquer manifestações religiosas.

A Igreja Católica Patriótica é um pastiche de cristianismo, que recusa a comunhão com o papa, com o próprio Jesus Cristo, e só diz amém mesmo a Pequim. Os bispos, padres e leigos que permanecem fiéis à comunhão católica são perseguidos, difamados, presos, torturados e mortos.

O que os chineses estão fazendo com o pobre do Tibete também não é brincadeira. Eles agora querem porque querem controlar os lamas que poderão, no futuro, identificar a criança que seria a próxima "reencarnação" de Buda e assim tornar-se o Dalai Lama, visto que o atual, exilado na Índia há 40 anos, é considerado um inimigo do Estado chinês, e eles querem alguém mais "leal". As "autoridades religiosas" chinesas chegam mesmo a dizer que, por sua falta de "patriotismo", o Dalai Lama pode perder a possibilidade de "reencarnar". Vai ser sábio assim na China.

Um filme interessante de ficcção com Keanu Reeves, Matrix, trata de um mundo dominado pelas máquinas, para as quais os humanos seriam fonte de energia. "Criados" em incubadoras, suas vidas - exatamente como as nossas - seriam apenas virtuais, induzidas em suas mentes a partir de um programa de computador. Um reduzido grupo de pessoas que escapou a essa dominação procura enfrentar as máquinas, invadindo o programa e tentando libertar os demais. Não falta aquele que prefere a doce ilusão às dificuldades e asperezas da "vida real", e não hesita em trair seus companheiros.

Ora, é exatamente isso que o socialismo apregoa. Para esses iluminados, nós somos vítimas de uma ideologia capitalista que não só nos escraviza como ainda faz com que pensemos que somos livres e acreditemos estar no melhor mundo possível, aceitando a desigualdade social e outros problemas como parte normal da vida, da natureza.

Eles então, os detentores absolutos da verdade, pretendem nos libertar dessa dominação e, de quebra - já que provamos nossa incompetência - fazer o favor de nos governar, ou melhor, nos dirigir. E para quem cai nessa "liberdade", a história está aí para provar, qualquer discordância dos "geniais guias dos povos" conduz diretamente - e isso na melhor das hipóteses - ao hospital psiquiátrico, aos campos de "reeducação", freqüentemente ao fuzilamento. Há quem diga, e, por incrível que pareça, a sério, que o socialismo, que "nunca foi posto em prática" (1), não pode ser responsabilizado pela morte de quase cem milhões de pessoas. Tá bom então.

O crítico Neal Gabler diz que Marx "sempre subestimou o sentimento das pessoas. Um de seus maiores enganos foi insistir em falar como elas realmente se sentiam, como se dissesse 'Você pensa que é feliz, mas eu sei melhor do que você; você não é realmente feliz'".

Entretanto, de todos esses iluminados (budas!) quem mais do que qualquer outro assumiu a onisciência divina e o pesado encargo de conhecer a verdade(2) e dela nos libertar para o que ele considera um mundo melhor foi o italiano Antonio Gramsci, a serviço do qual se encontram, no mais das vezes inconscientemente, uma considerável parcela de nossos artistas, intelectuais, jornalistas e mesmo religiosos, perto dos quais a mais histérica das fãs do padre Marcelo Rossi ganha uma consistência até então insuspeitada.

De qualquer modo, sempre se pode contar com a incompetência paralisante dessas autoproclamadas e autofestejadas elites intelectuais, que descobrem a pólvora justamente naquilo que anteontem deixou de ser moda na Europa ou nos Estados Unidos. Mas se nós acabarmos caindo na mão dessa gente, vai ser bem o caso de sairmos todos, de mãos dadas, cantando que "a gente não sabemos escolher presidente, a gente não sabemos tomar conta da gente. Inútil, a gente somos inútil".

Notas

(1) Aqui está uma mais recente: na noite do dia 16.6.2000, pelo menos 20 membros da comunidade de Yadav, de leiteiros (pertencentes às castas mais baixas da sociedade hindu), foram assassinados pelo Ranvir Sena, exército particular de latifundiários, num povoado do Estado de Bihar. E tome sabedoria oriental!
(2) "Verdade", aqui, num sentido muito próprio. Pois como ensina Bertolt Brecht, "para um comunista, a verdade e a mentira são apenas instrumentos, ambos igualmente úteis à prática da única virtude que conta, que é a de lutar pelo comunismo".

Alexandre Ramos
Teresópolis, 21/10/2002


    (4)
Arte De Meditar, A - Um Guia Pratico
Para Os Primeiros Passos Na Meditaçao


Autor: RICARD, MATTHIEU
Tradutor: VALE, WALQUIRIA CORREA DE ARAUJO CARDOSO
Editora: GLOBO
Assunto: RELIGIÕES - RELIGIÕES ORIENTAIS - BUDISMO

Partindo do princípio de que toda pessoa carrega em si o potencial para libertar sua mente do sofrimento e da ignorância, bem como para promover o bem-estar próprio e de outros Matthieu Ricard - escreveu o livro 'A Arte de Meditar', um guia para os primeiros passos na meditação.

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